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Reunião da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas abre trabalhos na COP26 com desafio de ampliar representatividade e ver mais direitos garantidos na Convenção do Clima

Andreia Fanzeres/OPAN
com colaboração técnica de Patrícia Zu
ppi/RCA

Um dos desafios da LCIPP é assegurar que os povos indígenas participem, em suas regiões, da elaboração e implementação de ações, políticas e mecanismos de financiamento climático, a partir do entendimento de que eles fazem parte da solução para a crise.  Foto: Bruno Taitson/ WWF Brasil

Mais uma vez, a programação oficial da COP26 começou com a agenda dos povos indígenas. Entre os dias 28 e 30 de outubro aconteceu em Glasgow, de forma híbrida, a 6a reunião do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP, na sigla em inglês) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC). Por três dias, discutiu-se sobre as ações realizadas no primeiro ciclo de atividades do órgão, cuja implementação se deu de 2019 a 2021, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia e diante do ineditismo da inserção das perspectivas indígenas no contexto da Convenção. E, exatamente por causa dessa responsabilidade, a reunião terminou com um acalorado debate, que envolveu também observadores que queriam ver mais senso de urgência refletido em um posicionamento da Plataforma para influenciar as negociações sobre a implementação do Acordo de Paris.

A Plataforma, criada como um mecanismo do Acordo de Paris, firmado em 2015 na COP21, e viabilizada por meio do estabelecimento de um Grupo de Trabalho Facilitador para sua implantação na COP24 em 2018, é uma instância única na UNFCCC porque tem seu órgão de implementação com composição paritária entre representantes indígenas e dos países membros. Guarda as funções de valorizar os conhecimentos tradicionais, ampliar o engajamento dos povos indígenas e comunidades locais nos processos da Convenção, bem como promover a inclusão de distintos sistemas de conhecimentos na elaboração de ações e na construção de políticas para enfrentar as mudanças climáticas.

Em um gesto de apoio e respeito por esse espaço, a diplomata mexicana Patrícia Espinosa, secretária-executiva da Convenção, abriu os trabalhos da Plataforma associando-os à necessidade de mais avanços nesta COP26. “Estamos muito longe de onde deveríamos estar. Isso é um fato. A mudança não vai acontecer de uma hora pra outra. E precisamos tomar as decisões certas agora. Temos o caminho das NDCs (metas de cada país para redução de emissões) e temos a ciência, por isso eu peço o apoio e o engajamento de vocês”, reforçou. Patrícia ainda ressaltou o papel dos povos indígenas no contexto das mudanças climáticas. “É lamentável que as alterações climáticas afetem a vida dos povos indígenas, apesar de serem eles os que mais contribuem para diminuir as emissões vivendo em harmonia com a natureza. Os povos indígenas ajudam a salvaguardar 80% da biodiversidade remanescente do planeta e representam apenas 6.2% da população global”, disse. 

O maior engajamento dos povos indígenas e comunidades tradicionais na agenda climática, para além dos governos nacionais e locais, está no cerne das atividades concebidas pela Plataforma até agora. E, por seu caráter desafiador, consta também como um dos principais eixos de ação no Plano de Trabalho da Plataforma para o próximo ciclo de três anos, que precisa ser apreciado pelo Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico (Substa, na sigla em inglês) e validado pelos Estados que compõem a convenção em Glasgow nesta COP26. 

Surpreendendo alguns membros da Plataforma, o presidente da COP26, Alok Sharma, fez questão de visitar a reunião, se disse comprometido com a amplificação das vozes dos povos indígenas e perguntou o que se espera dele nas próximas semanas. A resposta que recebeu foi a de pressionar os estados para esse mesmo compromisso. Dalee Dorough, representante dos povos indígenas do Ártico, aproveitou a oportunidade de dizer diretamente a Sharma como os impactos das mudanças climáticas em sua região já têm sido imensuráveis, que a adaptação é difícil e que o mundo precisa entender que os povos do Ártico têm “o direito ao gelo”. A reunião foi tomada de emoção em breves segundos de silêncio e reflexão. Dalee aproveitou para explicar a Sharma um pouco da atividade que co-liderou na implementação do primeiro plano de trabalho, justamente voltada à sensibilização de atores-chave sobre a importância dos povos indígenas no enfrentamento às mudanças climáticas. Sharma respondeu dizendo que entendeu o recado dado em alto e bom som e que passou a conhecer “a face humana das mudanças climáticas”, lembrando que nos últimos 9 meses visitou 35 países encontrando pessoas afetadas pelo desequilíbrio do clima.  

Hindou Ibraim, representante dos povos africanos e co-presidente indígena do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma, enfatizou em diversas oportunidades que o respeito ao direito à consulta e consentimento dos povos indígenas deveria constar nas recomendações de cada uma das atividades realizadas. “O resultado mais importante do nosso trabalho será ver as nossas recomendações sendo implementadas nos níveis nacionais e locais, em especial garantindo o direito à consulta e a consideração do conhecimento tradicional na construção das soluções. Meu alerta para os governos que estão aqui participando é como vão nos ajudar a implementar o plano de trabalho e não deixar os povos indígenas para trás. Vocês podem nos ajudar nesta COP26!”.

Contudo, quando se tentou materializar o apelo de Hindou em um caso concreto, as dificuldades ficaram ainda mais claras. A iminência da discussão sobre o Artigo 6 do Acordo de Paris, que  regulamenta os mecanismos de mercado de carbono, e a preocupação sobre impactos e o acirramento das pressões aos povos indígenas caso não haja salvaguardas a seus direitos, aterrissou na reunião da plataforma. Em especial, o tema esquentou e dividiu opiniões depois que Andrea Carmen, representante indígena da América do Norte, propôs a redação de um posicionamento da Plataforma pela garantia de respeito aos direitos indígenas nesta discussão específica. Alguns membros e estados avaliaram que a Plataforma tem natureza técnica e esse tipo de manifestação seria inadequada. Outros, valendo-se da importância de abordagens sempre pautadas pela defesa dos direitos indígenas, argumentaram pela urgência de ações mais ambiciosas e contundentes para que haja a transformação necessária na conduta dos países. Tuntiak Katan, representante indígena da América Latina e Caribe, avaliou que se pode esperar os países avançarem pela via formal ou assumir que estamos numa emergência. “Essa COP poderia fazer a diferença. Temos que parar a destruição do planeta e não é mais hora de pensar se estamos de acordo se vamos viver ou não. Todos queremos viver”, falou. Assim como se deu anteriormente na complexa negociação para aprovação do texto de criação da Plataforma, em 2017 e 2018, quando algumas Partes traziam questionamentos ao texto proposto alegando preocupações acerca da “soberania nacional”, a discussão não chegou a um consenso e revelou o ambiente de pressões que determinam o sucesso ou o fracasso do lento processo de negociação na UNFCCC.

Desafios internos

Um dos desafios da Plataforma é assegurar que os povos indígenas participem em suas regiões da elaboração e implementação de ações, políticas e mecanismos de financiamento climático, a partir do entendimento de que eles fazem parte da solução para a crise climática. De acordo com Andrea Carmen, hoje só há dois países que têm mecanismos para incluir os povos indígenas no desenvolvimento das suas NDCs: Canadá e Nova Zelândia. “Precisamos pressionar para melhorarmos a inclusão dos povos indígenas nas ações nacionais”. Irina Barba, representante dos estados da região da América Latina e Caribe, ao falar sobre o mapeamento de mecanismos financeiros para garantir a participação indígena nas discussões sobre clima e implementar ações de mitigação e adaptação, fez um pedido para que os estados criem mecanismos efetivos, pois os que existem não atendem às necessidades específicas destes povos. 

Do ponto de vista do funcionamento da própria Plataforma, um observador lembrou da falta de representatividade das comunidades tradicionais. “Estamos preocupados porque o processo da plataforma está avançando sem uma representação das comunidades locais. Elas são coletivos que têm uma história em comum, em que os indivíduos se reconhecem como parte da coletividade e detém uma forma de se autogovernar”, disse Gustavo Sanches, do México. Ele requisitou diretamente espaço para as comunidades locais na LCIPP e ouviu da Secretaria da Plataforma, que assessora os trabalhos desta instância da UNFCCC, que os grupos precisam se credenciar e solicitar reconhecimento formal, mas não deu maiores detalhes sobre o processo. 

Ao mesmo tempo em que a colaboração ampla e qualificada de membros e observadores da Plataforma tem sido reconhecida como estratégica para seu êxito, as lacunas para os próprios indígenas seguem numerosas, como a participação das mulheres, de jovens, de representantes da Amazônia, bem como ajustes com relação ao fuso horário, em especial para o efetivo acompanhamento de comunidades do Pacífico, e a importância da tradução de documentos e transmissão de reuniões em mais idiomas. 

Esses pontos permearam os três dias de discussão e demonstraram que a presença em si dos povos na COP ou em encontros regionais e interseccionais nem sempre é a maior preocupação, mas a garantia de que a construção dos entendimentos da Plataforma consiga incorporar efetivamente as contribuições das regiões, de quem está no chão das aldeias e comunidades. Por este motivo, recebeu muitas críticas o mecanismo de revisão periódica conhecido como “global stoktake”, por adotar uma abordagem de difícil envolvimento indígena. 

Vicky Tauli-Corpuz, que de 2014 a 2020 foi Relatora Especial da ONU para os Direitos dos Povos Indígenas, comentou que esse processo deve integrar efetivamente as vozes e os relatórios dos povos indígenas. “Isso significa que deve haver processos do nível local ao global para garantir que essas vozes sejam ouvidas e incluídas no relatório de avaliação. Se as Partes não incluírem essas vozes, relatórios independentes de povos indígenas devem ser aceitos. Nossa capacidade de fazer nossas próprias avaliações deve ser apoiada por meio de políticas, suporte técnico e finanças”, sugeriu.

Ao longo das próximas duas semanas em Glasgow a Plataforma de Comunidades Locais e de Povos Indígenas promoverá alguns eventos importantes, como uma mesa de diálogo entre povos indígenas e a presidência da COP26 (02/11), a reunião sobre conquistas da Plataforma em seu primeiro ciclo de dois anos de atividades (03/11), uma oficina com múltiplos atores-chaves sobre a Plataforma e o primeiro encontro anual de detentores de conhecimentos tradicionais (08/11). Em 2022, reuniões nas sete regiões socioculturais do mundo deverão eleger novos membros para a LCIPP, que serão os responsáveis por liderar a implementação do plano de trabalho para os próximos três anos. Eles assumirão sua gestão a partir de junho, quando ocorrerá a 7a reunião do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma, na sede da UNFCCC, em Bonn, na Alemanha.  

Mais informações:

Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas da UNFCCC: https://lcipp.unfccc.int/

Fórum Internacional de Povos Indígenas para Mudanças do Clima: https://www.iipfccpavilion.org/

Rede de Cooperação Amazônica (RCA): www.rca.org.br 

Operação Amazônia Nativa (OPAN): www.amazonianativa.org.br

Lideranças indígenas da RCA rumo à COP 26

A Rede de Cooperação Amazônica – RCA tem apoiado, desde 2015, a participação de lideranças indígenas nas Conferências Mundiais do Clima (as COPs, Conferências das Partes) e nas reuniões técnicas da Convenção da ONU para Mudanças do Clima (UNFCCC, sigla em inglês). Desde 2017 a RCA, representando as suas organizações membro, faz parte do Fórum Internacional de Povos Indígenas para Mudanças do Clima e tem participado do processo de implementação da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, conforme mecanismo previsto no Acordo de Paris (COP21/2015).

Por Patricia Zuppi/RCA

Enquanto uma rede de cooperação formada por 14 organizações indígenas e indigenistas da Amazônia brasileira, a RCA tem buscado incidir e colaborar nas discussões e na formulação e implementação de políticas, programas e financiamentos que envolvam as questões ambientais e climáticas nas terras indígenas, promovendo maior participação e protagonismo de seus representantes.

Esta linha de atuação tem o foco na contínua capacitação e no apoio para a incidência de seus membros em espaços relevantes de discussão e negociação climática, com ênfase no monitoramento e no fortalecimento destes processos a partir das perspectivas, saberes e experiências produzidas no âmbito de suas organizações de base.

O contexto de rede favorece o intercâmbio e a difusão destas experiências locais e saberes articulados pelas organizações que a compõem, amplificando as oportunidades de intercâmbio, produção de conhecimento e incidência em prol dos povos indígenas da Amazônia.

Por isso, as delegações da RCA são formadas por aqueles representantes de suas organizações que atuam de forma relevante nesta temática e têm participado ativamente das pautas de incidência internacional.

Neste contexto, a RCA tem promovido ao longo dos anos a participação de seus membros nas Conferências do Clima (COPs), nas reuniões bianuais do Fórum Internacional de Povos Indígenas para Mudanças do Clima e nas pautas para elaboração e implementação da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, conforme proposta pelo Acordo de Paris (COP21/2015).

Ainda em processo de construção, esta Plataforma se constituí como o principal mecanismo de participação de Povos Indígenas e Comunidades Locais na estrutura da Convenção do Clima (UNFCCC) e prevê três funções principais: intercâmbio de conhecimentos, ampliação da capacidade de engajamento de povos indígenas e comunidades locais nos processos da UNFCCC e a integração de diversos sistemas de conhecimento, práticas, inovações, bem como a participação nas ações, políticas e programas relacionados às mudanças do clima.

Diante da perspectiva de participação no processo de construção desta Plataforma, e com a Amazônia progressivamente ameaçada pelo desmonte das políticas ambientais e indigenistas no Brasil, sendo foco das discussões climáticas globais, a RCA tem investido esforços na qualificação e participação de suas lideranças indígenas de base para incidir neste contexto.

As experiências locais das organizações no que se refere à gestão ambiental e territorial das terras indígenas, bem como suas percepções e alertas, são contribuições fundamentais que embasam estes debates globais em prol da criação de novas soluções climáticas, pautadas pelo respeito aos seus direitos, saberes, necessidades e modos de vida tradicionais.

Este processo de incidência indígena na UNFCCC tem potencial, ainda, em médio e longo prazo, para articular resultados na formulação de ações, financiamentos e políticas globais que alcancem de fato as bases, a partir de suas perspectivas e de modo adequado às suas prerrogativas socioculturais.

Numa Conferência Climática em que um dos assuntos mais polêmicos é a regulamentação dos mercados de carbono, cujos encaminhamentos podem afetar e pressionar ainda mais os territórios indígenas da Amazônia, fica evidente a necessidade de participação e incidência indígena qualificada para os debates mais técnicos.

A delegação da RCA na COP 26, que acaba de chegar em Londres/Inglaterra, é formada por duas lideranças indígenas experientes em incidência internacional: Sinéia do Vale, do povo Wapichana, coordenadora de gestão territorial e ambiental do Conselho Indígena de Roraima-CIR, que tem participado desde 2010 das Conferências do Clima, e Maurício Y’ekuana, diretor da Hutukara Associação Yanomami, que também acumula experiência de incidência em distintos Órgãos da ONU. Esta delegação conta com o apoio técnico e logístico da Secretaria Executiva da RCA para esta participação na COP26 e com o financiamento da Fundação Rainforest da Noruega, da Fastenopfer da Suíça e o apoio CAFOD.

Junto com Sinéia e Maurício viaja para Glasgow a jovem advogada indígena Jéssica Nascimento, também do povo Wapichana, gestora ambiental do CIR, que, com o apoio adicional da Nia Tero, compõe a delegação da RCA na COP 26.

O grupo somará esforços de representação e incidência na COP26 junto às outras lideranças indígenas apoiadas pela COIAB e APIB, configurando uma delegação indígena do Brasil com cerca de 40 pessoas. Destas, a RCA apoia, ainda, a participação na COP26 de mais duas mulheres do movimento indígena do Brasil, Alessandra Munduruku, da delegação da COIAB, e Célia Xakriabá, da APIB.

Formação “Povos Indígenas rumo à COP 26”

Num momento de agravamento das ameaças e pressões sobre os territórios indígenas e seus defensores, a maior delegação indígena do Brasil prevista nas Conferências do Clima tem se preparado para esta participação na COP26. Nos meses de setembro e outubro de 2021, a RCA realizou, em parceria com a APIB, COIAB, OPAN e Uma Gota no Oceano, a formação “Povos Indígenas rumo à COP26”, que contou com o apoio da Fundação Rainforest da Noruega, Fastenopfer da Suíça e Fundação Ford do Brasil. Para preparar as lideranças indígenas para a COP26 e para a VI Reunião do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP) na UNFCCC, foram realizadas seis sessões virtuais com a participação de 12 renomados especialistas em Clima, indígenas e não-indígenas, que trataram das pautas mais relevantes em jogo nesta Conferência do Clima, assim como a própria estrutura de funcionamento das COPs e os espaços de incidência dos povos indígenas. Com a moderação de lideranças indígenas também especializadas no tema – Sonia Guajajara/APIB, Sineia Wapichana/CIR, Élcio Manchineri/COIAB, Dinamam Tuxá/APOINME e Francisca Arara/IMC Acre – cada sessão teve duração de duas horas e meia em que lideranças indígenas, quilombolas, de comunidades tradicionais, junto com os representantes de organizações parceiras puderam alinhar os conhecimentos sobre incidência internacional em Clima, e discutir sobre os temas em destaque.

Com enfoque nos processos de participação indígena na UNFCCC, a Formação contou, pela primeira vez no contexto dos povos indígenas do Brasil, com a participação especial de cinco convidados internacionais, que são notórios especialistas do Fórum Internacional para Mudanças do Clima. Entre eles, seu co-presidente Juan Carlos Jintiach/COICA e a co-presidente indígena do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma, Hindou Ibrahim, do Chad/África. Dennis Maierena, da Nicarágua, compartilhou o contexto histórico de incidência dos povos indígenas da criação da UNFCCC até a estruturação do Caucus Indígena e da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, Johnson Cerda/Conservação Internacional provocou um debate sobre a regulamentação do Artigo 6 pela perspectiva dos povos indígenas na garantia de direitos e Eileen Mairena apresentou um painel muito esclarecedor sobre os mecanismos de financiamento climático para povos indígenas e o Fundo Verde do Clima.

Dentre os especialistas não-indígenas convidados estiveram presentes o Prof. Paulo Artaxo do Instituto de Física da USP, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), Márcio Astrini, Secretário Executivo do Observatório do Clima e Fernanda Carvalho, gerente global de políticas climáticas da WWF Internacional.

Um mundo com febre

A Conferência Mundial das Nações Unidas para as Mudanças do Clima deste ano, COP 26, terá início oficial no dia 31 de outubro de 2021, na cidade de Glasgow, Escócia.

Num cenário mundial ainda pandêmico e com evidente aceleração dos eventos ambientais extremos provocados pelo aquecimento global, que demostram de forma trágica o insucesso até agora dos países membros da Convenção de Clima da ONU na implementação do Acordo de Paris (COP21/Paris,2015), a COP26 tem como meta prioritária que os Estados estabeleçam compromissos mais ambiciosos voltados às ações emergenciais para conter o aumento da temperatura do planeta.

Um mundo em colapso climático afeta a todos e, portanto, é um problema de todos. Deste modo, o Acordo de Paris destaca que todos devem estar envolvidos na solução desta crise climática global.

Se os povos indígenas e as comunidades locais nada têm a ver com as causas do aquecimento global desenfreado, pelo contrário, são os grupos que, dependendo da região do planeta, já enfrentam previamente os maiores impactos. Os territórios onde vivem tradicionalmente são as regiões onde se verificam as maiores florestas e biomas preservados do mundo.  E isso não é por acaso. Mas se deve aos seus distintos saberes e práticas tradicionais e suas concepções próprias de vida.

Até o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em sua sigla em inglês), Fórum mais relevante de cientistas mundiais, cujos relatórios embasam tecnicamente as negociações da Convenção Quadro da ONU para Mudanças do Clima (UNFCCC), já reconheceu que a floresta protegida e terras indígenas demarcadas são barreiras contra crise climática (Relatório Especial sobre fluxos de carbono relacionados a ecossistemas terrestres, 2019).

Comunidades que vivem em pequenas ilhas que estão desaparecendo com o aumento do nível do mar, outras que habitam territórios cujos lagos e rios secaram e são obrigadas a migrar em situação de alta vulnerabilidade, grupos de regiões polares em franco degelo, ou aqueles acometidos por incêndios incontroláveis, entre outros, já vivenciam na pele os impactos das mudanças do clima, tendo a sua sobrevivência física e cultural ameaça. Estes grupos têm muito a ensinar sobre preservação, resiliência e iniciativas de adaptação.

O texto do acordo climático vigente, o Acordo de Paris, apresenta 6 referências aos povos indígenas, com destaque para a garantia de seus direitos, e, finalmente, reconhece a necessidade de fortalecer os conhecimentos, as tecnologias, as práticas e os saberes dos povos indígenas e comunidades locais na elaboração de respostas para as mudanças do clima.

Este Acordo traz ainda uma novidade importante: a estruturação de uma Plataforma para o intercâmbio de conhecimentos, a ‘Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas” (LCIPP, sigla em inglês).

Antes da abertura oficial da COP26 ocorrerá, de 28 a 30 de outubro, a VI Reunião do Grupo de Trabalho Facilitador desta Plataforma, órgão da UNFCCC instituído de modo inédito, com representação equânime entre representantes do países e dos povos indígenas das 7 sub-regiões socioculturais do mundo, para implementação desta Plataforma.

A previsão de pauta para esta reunião é a entrega dos resultados do Primeiro Plano de Trabalho, com 12 atividades iniciais para desenvolver a Plataforma no âmbito da Convenção do Clima (UNFCCC). As atividades deste Plano de Trabalho foram realizadas, apesar das limitações impostas pela pandemia de COVID19, de 2019 a 2021, por este órgão e com a colaboração do Fórum Internacional de Povos indígenas para Mudanças do Clima e demais steakeholders (partes envolvidas). Espera-se que ao longo das negociações previstas para a COP26, seja pactuado e aprovado um novo Plano Trienal de Trabalho para dar continuidade ao processo de implementação da Plataforma na UNFCCC.

A RCA, através da participação dos membros de suas organizações, tem participado e incidido nesta pauta da Plataforma e seguirá com esta agenda durante a COP26.

Sinéia do Vale/CIR, Viseni Waiãpi/Apina, Valéria Paye/COAIB, junto com Luis Donisete Grupioni e Patricia Zuppi, da Secretaria Executiva da RCA, na I Reunião do Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, na sede da UNFCCC, em Bonn/Alemanha, junho de 2019.

Formação “Povos Indígenas rumo à COP26”: A luta é Global

Membros de organizações representativas dos povos indígenas nas discussões sobre clima resgatam histórico de conquistas e orientam lideranças do Brasil em curso de capacitação.

Por Andréia Fanzeres/OPAN

Conhecer a história da participação indígena na Convenção do Clima é se deparar com um percurso de luta e de crescente reconhecimento do papel estratégico das comunidades locais na mitigação ao aquecimento do planeta. Melhor ainda quando essa verdadeira aula é dada por dois experientes representantes indígenas, que em outubro engrandeceram a formação “Lideranças indígenas rumo à COP26”.  Com o tema “Povos Indígenas na incidência em Clima: da ECO 92 à Plataforma de Conhecimentos Tradicionais”: Dennis Mairena e Juan Carlos Jintiach.

A sessão começou com a fala de Dennis Mairena, engenheiro agrônomo nicaraguense, com mais de 40 anos de experiência profissional com povos indígenas na Nicarágua, Guatemala, Venezuela, Colômbia, Bolívia e Honduras, acompanha as negociações da Conferência das Nações Unidas para Mudanças do Clima (UNFCCC) há 13 anos e tem desenvolvido trabalhos sobre Consentimento, Livre, Prévio e Informado, além de outros com Fundo para Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe (FILAC), com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola da ONU (FIDA) e com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Com essa bagagem, Dennis falou didaticamente de todo o percurso de construção do arcabouço legal e diplomático das negociações sobre clima desde a Eco 92, passando pela COP15 de Copenhague, COP20 de Lima, e como os povos indígenas foram se organizando para galgar seu espaço nas convenções.

Há 13 anos, o engenheiro agrônomo indígena Dennis Mairena há 13 anos desenvolve trabalhos sobre Consentimento, Livre, Prévio e Informado

A compreensão sobre o jogo de forças e a formação de blocos de negociação dos países na Convenção também foi importante para situar que direcionamento os povos indígenas devem ter na construção de alianças até que seus direitos sejam devidamente garantidos no escopo das COPs. Nessa esteira, Mairena detalhou o quão importante têm sido os trabalhos do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas (IIPFCC), uma plataforma de participação aberta aos povos indígenas do mundo que acompanham as negociações sobre mudanças climáticas na UNFCCC, chamada de Cáucus Indígena. “O fórum é convocado duas vezes por ano. Ele se organiza e nomeia seus próprios representantes, que vêm de sete regiões socioculturais no mundo. Ali são formados grupos de trabalho para preparação de declarações, conferências de imprensa, convites para negociadores se aproximarem de nós e discussão em plenária”, explicou Mairena. Ele frisou que o trabalho é voluntário e, por isso, depende do esforço de cada um e que a COP não é uma oportunidade de passeio. “Nossos representantes vão para trabalhar em função dos interesses dos povos indígenas do mundo porque as negociações são globais e não envolvem um povo ou outro. Temos que nos desprender de temáticas específicas para que a luta seja global”, frisou.

O desafio é endereçar tantas questões relevantes trazidas pelos indígenas em apenas dois minutos! Esse é o tempo que, segundo Mairena, é concedido aos observadores no final das sessões plenárias de negociação na UNFCCC. “Precisamos ser muito efetivos e coordenados para enviarmos a nossa mensagem”, relatou. E isso tem tudo a ver com a organização deste fórum onde as questões indígenas são lapidadas. “Hoje temos três presidentes no Cáucus e dois pontos focais, que fazem o vínculo com o secretariado. Toda a comunicação se faz através dessas duas pessoas, para agilizar o fluxo de informação e de coordenação. É um trabalho muito intenso, constante, durante todos os dias das COPs. Além disso, existem comitês de coordenação global, constituídos em Varsóvia, na COP 19, para os trabalhos ao longo do ano”, explicou Mairena.

Juan Carlos Jintiach afirma que desde o Acordo de Paris os povos indígenas foram mencionados em mais de 60 decisões na UNFCCC.

Um dos co-presidentes é justamente Juan Carlos Jintiach, assessor técnico da COICA, que dividiu com Mairena este painel da capacitação. Além de reforçar o histórico, os caminhos e as estruturas da UNFCCC para incidência indígena, Jintiach fez um relato sobre o verdadeiro jogo de cintura que é entender e transitar pelas instâncias da UNFCCC com a pauta indígena. “A COP é um ambiente amplo. Temos que conhecer as condições que nós, como observadores, temos, porque os atores principais são os governos. Mas há companheiros indígenas que são ou já foram parte dos governos, são negociadores, então temos que saber com quem falar, enxergar os órgãos, como estão constituídos e o que significam”, apontou Jintiach.

Segundo ele, desde o Acordo de Paris existem referências de mais de 60 decisões ou menções aos povos indígenas na UNFCCC. Uma das mais importantes é a que culminou com a criação da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, e com o advento do grupo de trabalho facilitador para sua implementação, em 2018, que garante de modo inovador representação igualitária entre Estados e povos indígenas indicados pelas sete regiões multiculturais do planeta de forma autônoma. “A plataforma é uma conquista oficial, não é um sitio de internet, é um espaço oficial e previsto dentro da Convenção do Clima”, afirmou Jintiach.

Francisca arara/OPIAC, Almerinda Tariano/FOIRN, Nara Baré/COIAB, Marta Tipuicy Manoki/Rede Juruena, Edel Nazaré/CNS e Patricia Zuppi/RCA junto com os demais representantes indígenas de todas as sub-regiões socioculturais e negociadores das Partes comemorando a aprovação da criação do “Grupo de Trabalho Facilitador da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas” (FWG-LCIPP, em sua sigla em inglês), órgão pioneiro na UNFCCC, composto paritariamente por representantes de países e povos indígenas, para implementação da Plataforma.

A plataforma nasceu em meio a esse processo de negociação e articulação do movimento indígena internacional. “Ela foi criada a partir da COP de Paris e precisa se fortalecer para que seu plano de ação a cada três anos possa ser revisado e para buscar financiamento para sua implementação. Não se pode ter uma plataforma de diálogo global sem ter plataformas nacionais”, opinou Mairena, que citou Peru, Costa Rica e Bolívia como exemplos de países em que iniciativas nacionais estão prosperando. Este é um espaço em que, por tudo isso, participação indígena é mais que bem-vinda. “É muito importante que qualquer delegado que chegue à COP26 participe das nossas reuniões oficiais. Vamos fazer um Cáucus interno e vamos fazer coletivamente. A reunião da plataforma tem que ter participação”, avisou Jintiach. Para os povos indígenas do Brasil, tem sido um desafio acompanhar mais de perto essa agenda desde a regional da América Latina e Caribe.

Sineia do Vale/CIR: “A crise climática tem a ver com os direitos, a demarcação das terras indígenas, e isso tudo precisa estar conectado.”

“Saber de todo esse histórico é enriquecedor, porque compreendemos como um povo indígena pode fazer incidência nesses espaços. Estamos organizados, estamos dentro da UNFCCC e é um caminho não muito fácil, é desafiador, principalmente quando se trata da questão da língua”, avaliou Sineia do Vale Wapichana, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), mediadora da sessão. 

Para ela, é preciso entender mais sobre a política climática para fazer um contundente contraponto à versão que os governos levam para as COPs sobre seus compromissos com os povos indígenas e com o meio ambiente. “A crise climática tem a ver com os direitos, a demarcação das terras indígenas, e isso tudo precisa estar conectado. Há um retrocesso na questão do direito e pode nos tirar dessa condição de barreira contra o desmatamento”, alertou Sineia.

Expor o cotidiano dessas ameaças pode nutrir espaços como a plataforma de legitimidade, como lembrou Juarez Paimy, do povo Rikbaktsa, e que representou a Rede Juruena Vivo na capacitação. “O agronegócio cresceu de forma incontrolável em volta dos nossos territórios. O governo vai dizer que está tudo às mil maravilhas. Precisamos defender o que resta dos rios, das florestas”, disse Paimy. “Somos nós os maiores protetores da floresta, do meio ambiente. Temos que incentivar diretamente os saberes tradicionais nessa política de mudanças climáticas”, motivou-se Lucio Xavante, da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt).

O curso “Lideranças indígenas rumo à COP26” prevê sete encontros virtuais até as vésperas da Conferência do Clima, a ser realizada na cidade escocesa de Glasgow, entre 31 de outubro e 12 de novembro de 2021. É promovido pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) Rede de Cooperação Amazônica (RCA), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Operação Amazônia Nativa (OPAN), Uma Gota no Oceano e conta com apoio de Fastenopfer, da Fundação Rainforest da Noruega e da Fundação Ford.

Discussão amarga, mas necessária: é preciso conhecer para incidir nas discussões sobre mercado de carbono

Tema do 3º encontro do curso sobre mudanças climáticas, regulamentação do mercado de carbono na COP26 enseja preocupação quanto à garantia de respeito aos direitos indígenas.

Andreia Fanzeres/OPAN

Um dos assuntos mais aguardados para discussão na COP26 será a regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris. Popularmente conhecido como o mercado de carbono, trata-se da possibilidade de cooperação entre todos os países de modo voluntário na implementação de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Ou seja, transferindo resultados de mitigação, devendo promover o desenvolvimento sustentável, assegurar a integridade ambiental e transparência com cuidado para que não haja dupla contagem, ou seja, que uma mesma ação de redução de emissões num lugar seja contabilizada em outro, entre mais condições que ainda suscitam dúvidas sobre como esse sistema deverá operar na prática. Debatê-lo não é nada fácil.

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Os esforços mundiais para conter o aumento da temperatura no planeta fazem parte de uma história recente, mas cheias de nuances diplomáticas difíceis de entender. As lideranças indígenas que participam da capacitação “Lideranças Indígenas rumo à COP26” tiveram a oportunidade de conhecer, com mais duas grandes referências brasileiras, os caminhos percorridos na negociação climática até aqui.

Na segunda sessão de capacitação sobre mudanças climáticas e incidência, Dinamam Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) recebeu Fernanda Carvalho, Gerente Global de Políticas de Clima e Energia do WWF Internacional e Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, para uma discussão recheada de leveza e objetividade.

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Povos indígenas do Brasil participam de capacitação sobre mudanças climáticas: uma parceria da RCA com APIB, COIAB, OPAN e GOTA

Curso  aborda temas  estratégicos para a COP26, como a necessidade de valorização do conhecimento tradicional,  mercado de carbono e metas globais para conter o aquecimento do planeta.

por Andreia Fanzeres/OPAN

 

 

 

 

 

“Sem nossos territórios, não há solução para a crise climática e ambiental em que vivemos. Então, se o mundo está discutindo esse tema, nós temos que estar presentes”.

Com esta frase, Sonia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), abriu oficialmente o curso de capacitação “Lideranças Indígenas rumo à COP26”, para um público de 65 participantes de todos os cantos do país. A iniciativa representa um novo esforço na preparação para incidência na pauta climática, iniciada desde que o primeiro representante indígena brasileiro foi a uma Conferência do Clima, em 2001.

Na última, a COP25, realizada em Madri em dezembro de 2019, o Brasil levou sua maior delegação indígena e conseguiu destaque em espaços oficiais, como a Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas, eventos paralelos, coletivas de imprensa e em manifestações de rua junto com outras organizações da sociedade civil. “Participar desses espaços é necessário, mas para isso precisamos entender conceitos técnicos que são colocados lá e elaborar nossa mensagem em conjunto”, disse Sonia.

Por isso, para iniciar a capacitação, foram convidados dois grandes especialistas para o diálogo com as lideranças indígenas, Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) e Ane Alencar, Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que apresentaram o que o conhecimento científico tem de mais atual e consagrado sobre a importância da Amazônia e das terras indígenas para as discussões climáticas.

Sonia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), abriu o curso de formação. Foto: Mídia Ninja.

Paulo Artaxo, professor do Departamento de Física Aplicada da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudança Climática. Foto: The Shift

 

 

 

 

 

 

 

Artaxo explicou como a Amazônia influencia o clima no planeta ao mesmo tempo em que é afetada por ele, sendo peça fundamental em qualquer cenário. Segundo menciona o último relatório do IPCC, publicado em agosto, a região teve um clima estável ao longo dos últimos 30 mil anos, com poucos extremos de calor e chuva, mas nós estamos mudando essa condição. “A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 2 graus Celsius pode ser impossível”, cita, reiterando que é indiscutível que as atividades humanas estejam causando mudanças climáticas, perfeitamente perceptíveis hoje na medida em que uma vasta diversidade de estudos aponta para a emergência da escassez hídrica e do alcance de um ponto de não retorno para a Amazônia. As informações que endossam as afirmações do relatório do IPCC foram detalhadamente explicadas por meio de gráficos e análises de cenários menos e mais otimistas aos cursistas, que identificaram a necessidade de um diálogo mais profícuo entre a produção científica e o conhecimento indígena.

Sob a condução de Ane Alencar, as lideranças tiveram uma verdadeira aula sobre mudanças climáticas, os processos que acarretam o aquecimento global, seus efeitos, o papel das árvores e, mais especificamente, da Amazônia e das terras indígenas. “As terras indígenas são barreiras efetivas ao desmatamento e funcionam como um regulador climático”, afirmou. Ane Alencar explicou, ainda, como o fogo na Amazônia torna a floresta mais sensível e porque, hoje, essa é uma questão tão relevante. “A Amazônia não queima. Mas a gente está queimando a Amazônia. Para reduzir o fogo, precisamos diminuir as fontes de ignição e isso tem tudo a ver com o desmatamento”, disse.

Nedina Yawanawa, coordenadora da Organização de Mulheres indígenas do Acre. Foto: Blog do Altino Machado

Nedina Yawanawa, coordenadora da Sitoakore (Organização de Mulheres indígenas do Acre) elogiou a importância da formação e do compartilhamento das informações científicas sobre clima. “Temos um sentimento de muita tristeza ao saber que a Amazônia está perdendo carbono para a atmosfera. As pesquisas demonstram essa preocupação. Então, o que precisa mais acontecer para que as autoridades entendam?”, questionou.

Lúcio Xavante, secretário da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), comentou sobre o efeito das mudanças climáticas sobre a cultura. “As mudanças climáticas impactam nossa tradição também. As chuvas não estão mais batendo com o calendário indígena. O sapo e a cigarra devem chamar a chuva no tempo certo e sabemos quando é hora de fazer o plantio tradicional”, relata.

Já a coordenadora de gestão territorial e ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Sinéia do Vale Wapichana, trouxe para a discussão a necessidade de alinhar melhor o conhecimento científico com o indígena. “Ainda tenho um sonho de nivelar as informações científicas com as tradicionais. Temos que fazer esse caminho de volta para as comunidades. Precisamos saber sobre a questão científica sim, para discutirmos de igual para igual, mas gostaria de ver os estudos feitos juntamente com os povos indígenas”, sugere.

Tipuici Manoki, que representa a Rede Juruena Vivo, no noroeste de Mato Grosso, chamou essa fusão de “conhecimentos científicos-indígenas”. Ela lembrou que não é de que hoje que os povos indígenas denunciam sobre mineração, desmatamento, hidrelétricas, incêndios, contudo, acredita que a academia devia ampliar sua própria perspectiva para compreender como a visão dos povos sobre esses temas é também uma forma de conhecimento científico. “Esses são conhecimentos milenares. Para a gente é uma ciência. Temos que aproximar esses conhecimentos de forma conjunta”, concorda.

As desigualdades sociais associadas às mudanças climáticas são uma pauta relevante para a COP26, como disse Artaxo. E, para lidar com isso, a resposta vem também do local. “Infelizmente não vamos mudar esse sistema em que, por causa das desigualdades, os impactos são maiores para os mais vulneráveis. Mas é possível lutar pelos nossos modos de vida e para que sejam implementadas políticas públicas que venham amenizar essa situação, apesar de o governo tentar flexibilizar ainda mais as leis que protegem o meio ambiente”, Nedina Yawanawa. Artaxo corroborou dizendo que é essencial termos programas de adaptação a mudanças climáticas e redução de emissões, freando a destruição de todos os ecossistemas brasileiros.

“A mudança do tempo traz preocupação para nós”, avalia Roseno Waiãpi, da Apina (Conselho das Aldeias Wajãpi). Do ponto de vista dos efeitos sobre os povos indígenas isolados, a situação fica ainda mais dramática, como lembrou Bitate Uru Eu Wau Wau. “As mudanças climáticas já estão afetando os modos de viver dentro das aldeias”, disse.

Watatakalu Yawalapiti, coordenadora da ATIX Mulher. Foto: Matilda.my

“É muito forte ouvir da minha sogra que meu filho não vai poder brincar na água. A gente achava que nunca ia ver isso, mas infelizmente está acontecendo na nossa casa, no nosso território, na nossa aldeia. Como vamos resolver isso?”, indaga Watatakalu Yawalapiti, coordenadora da ATIX Mulher. “As florestas queimarem de um jeito que a gente nunca viu. Não é nossa culpa. Não é justo que nossos netos paguem por isso”, afirmou.

Os depoimentos das lideranças emocionaram os painelistas.

“O que vocês estão sentindo na pele são as mudanças climáticas, que eram questões do futuro e agora são do presente”, reconheceu Artaxo. E, para ele, só há um caminho. “A tendência é que a pressão política e econômica para que o Brasil pare o desmatamento na Amazônia aumente, afetando o agronegócio e a indústria. No mundo dos brancos, vamos ter que mudar muito nosso sistema socioeconômico porque ele não é sustentável nem mesmo no curtíssimo prazo, como estamos percebendo hoje”.

Além disso, Artaxo considera que deveremos mudar nosso modelo de governança global, reduzir as desigualdades e melhorar a democracia. “Falta um planejamento de médio e longo prazo para o planeta como um todo. Ninguém tem a solução e a COP26 vai ser uma reunião chave para a gente desenhar um futuro com uma mínima chance de sucesso para o planeta e para os povos indígenas”, diz.

O curso “Lideranças indígenas rumo à COP26” prevê sete encontros virtuais até as vésperas da Conferência do Clima, a ser realizada na cidade escocesa de Glasgow, entre 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, e é promovido pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) Rede de Cooperação Amazônica (RCA), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Operação Amazônia Nativa (OPAN), Uma Gota no Oceano e conta com apoio de Fastenopfer, da Fundação Rainforest da Noruega e da Fundação Ford.

Assista à primeira sessão da Formação “Povos Indígenas Rumo à COp26′:

Painel com Prof. Paulo Artaxo: https://youtu.be/d0IFsNcWaXc

Painel com a Dra. Ane Alencar: https://youtu.be/B79FyffFp7w

Mulheres Indígenas participam da sessão 79ª da CEDAW/ONU sobre os Direitos das Meninas e Mulheres Indígenas

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), adotada em 1979 pela Assembleia Geral da ONU, é uma declaração internacional dos direitos das mulheres. Composta por um preâmbulo e 30 artigos, define o que constitui discriminação contra as mulheres e estabelece uma agenda de ação nacional para acabar com essa discriminação.

No dia 1º de fevereiro de 1984 o Brasil ratificou a CEDAW, que se constitui um marco enquanto o primeiro tratado internacional que dispõe amplamente sobre os direitos humanos das mulheres.

Durante a 79ª Sessão da CEDAW, realizada online em junho de 2021, o Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher propôs um debate virtual sobre os direitos das mulheres e meninas indígenas, organizado pelo Escritório do Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU.

O objetivo desta sessão é estimular o debate e buscar contribuições para a preparação de uma Recomendação Geral sobre os direitos das mulheres e meninas indígenas, que será elaborada por este Comitê da CEDAW, para orientar os Estados Partes da Convenção sobre as medidas que devem adotar para garantir o cumprimento integral de suas obrigações decorrentes da Convenção.

No contexto de realização da 3ª Oficina sobre o Sistema ONU e OEA para lideranças indígenas, promovida pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), a Rede de Cooperação Amazônica (RCA) e a ONU Brasil, um grupo formado por 21 mulheres indígenas da Amazônia, de 16 povos e regiões distintas, se reuniu no dia 17 de junho para debater o assunto e construir uma proposta de incidência conjunta. Fizeram parte deste grupo representantes das organizações indígenas da RCA: AMIM, Apina, FOIRN, OPIAC e Wyty Cate. Participaram também mulheres indígenas da COIAB, UMIAB, APIWA, AMIWA, APITIKATXI, AMITIKATXI e SITOAKORE.

A partir do registro das recomendações compartilhadas durante esta reunião, que contou com a mediação da equipe da ONU Brasil, foi consolidado um documento de contribuição elaborado por um Comitê formado por 6 mulheres indígenas deste grupo: Dadá Baniwa/FOIRN, Kassia Angela Galiby/AMIM, Mitore Cristiana Tiriyo Kaxuyana/ APITIKATXI e AMITIKATXI, Nedina Yawanawa/SITOAKORE e UMIAB, Rosimere Arapaço/COIAB e Sonia Jeanjacque Galiby/AMIM. O trabalho deste Comitê e a produção do documento contou com a colaboração de Ro’otsitsina Juruna/ACNUDH, Patricia Zuppi/RCA, Midori Hamada/APIB, Aisha Rocha/ACNUDH, Christiane Falcão/ONU Mulheres e Cecília de Santarém/Iepé.

O documento, que foi previamente validado pelo Comitê em interlocução com todas as autoras indígenas, apresenta um panorama atual da situação das mulheres indígenas no Brasil em relação aos impactos da discriminação e racismo vivenciados a partir de seus pontos de vista, e indica 21 recomendações sobre as principais medidas que o Estado deve tomar para garantir que os seus direitos sejam respeitados, seus territórios protegidos e sua possibilidade de resistência assegurada. O documento submetido à CEDAW tem como autoras: Amanda Teles Arapaço / Makira eta, Bruna Karipuna/AMIM, Cecília Awaeko Apalai/APIWA e AMIWA, Dadá Baniwa/FOIRN, Edileuda Shanenawa/OPIAC, Edina Shanenawa/UMIAB, Eriya Luiza Yawanawa Ashaninka/SITOAKORE, Irene Bartira Felício Palikur/AMIM, Janete Alves/FOIRN, Kasawa Waiãpi/Apina, Kassia Angela Lod de Moraes Galiby Kalinã/AMIM, Larissa Duarte Tukano/FOIRN, Maria Auxiliadora Cordeiro da Silva Baré/COIAB, Marinau Waiãpi/Apina, Mitore Cristiana Tiriyo Kaxuyana/ APITIKATXI e AMITIKATXI, Nedina Yawanawa/SITOAKORE e UMIAB, Rosimere Arapaço/COIAB, Suzy Evelyn de Souza e Silva Mura/ COIAB, Sonia Jeanjacque Galiby/AMIM, Silvia Cristina Puxcwyj Krikati/Wyty Cate e Waraperu Waiãpi/Apina.

A coordenadora do Departamento de Mulheres da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Dadá Baniwa, foi nomeada como oradora do grupo durante a segunda parte da sessão, que trata da “Participação efetiva, consulta e consentimento de mulheres e meninas indígenas na vida política e pública”.

A sessão será dividida em duas partes:
– Parte 1: “Igualdade e não discriminação com foco em mulheres e meninas indígenas e formas cruzadas de discriminação”
– Parte 2: “Participação, consulta e consentimento efetivos de mulheres e meninas indígenas na vida política e pública” (aqui terá declaração oral da representante indígena brasileira, Dadá Baniwa/FOIRN)
⏰ Horário Brasília:
7h30 as 9h30 (parte 1) e 11h as 13h (parte 2)
📆 Hoje, dia 24.
👀 Para acompanhar a Discussão Geral, através da UN Web TV em 24 de junho de 2021. https://media.un.org/en/webtv
🗣️ Tradução simultânea espanhol, inglês e francês.

Click aqui para acessar a versão do documento de contribuição.

Sociedade Civil Brasileira Repudia a Não Adesão do Brasil à Declaração sobre o Direito ao Meio-Ambiente no Conselho de Direitos Humanos da ONU

As organizações da sociedade civil, incluindo a Rede de Cooperação Amazônica – RCA, que subscrevem a presente nota vêm demonstrar o repúdio à não adesão do Estado brasileiro à declaração conjunta de 63 Estados, com vistas a reconhecer o direito a um meio ambiente sustentável com um direito humano no âmbito das Nações Unidas,
a qual foi apresentada durante o Debate Geral do Item 3 da presente 46a sessão do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
A declaração conjunta reconhece que, desde a proposição das resoluções sobre o meio ambiente e direitos humanos, em 2011, foi gerado um consenso global entre os Estados de que é chegada a hora de se reconhecer o direito de todos a um meio ambiente limpo, saudável, seguro e sustentável, levando aos Estados a adotarem uma resolução na Assembleia Geral das Nações Unidas, definindo formalmente o direito ao meio ambiente como um direito humano. Tal iniciativa atendeu ao chamado do Relator das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Direitos Humanos, em 2020.
O Brasil, membro reeleito do Conselho de Direitos Humanos em 2019, tem o dever de promover os direitos humanos ao seu mais alto padrão, o que inclui colaborar com uma construção ativa do direito internacional dos direitos humanos, e que vinha sendo uma característica fundamental da atuação da diplomacia brasileira até recentemente.
Contudo, o atual governo do Brasil, lamentavelmente age em movimento retrógrado e se omite de comprometer-se com uma agenda tão cara para o país ao não aderir a esta importante declaração. Logo neste momento em que o tema ambiental no Brasil tem sido foco de contundentes críticas em nível internacional, esta postura do governo brasileiro mostra sua leniência com a destruição e o não respeito ao meio ambiente como direito fundamental de todos e todas.
A Constituição do Brasil de 1988 (Art. 225) é uma das poucas no mundo que reconhece o direito ao meio ambiente, como um direito individual, difuso, coletivo e transindividual. A legislação ambiental brasileira, em que pese os frequentes ataques contra ela, é uma das mais progressivas do mundo. Sendo membro do Conselho de Direitos Humanos, e tendo um sólido texto constitucional sobre a matéria, o Estado brasileiro teria o dever de, não só aderir à declaração, mas também de fazer aportes que a fortalecessem, de acordo com as suas próprias disposições
constitucionais e legais, promovendo assim um direito internacional dos direitos humanos efetivo e moderno.
De fato, a atuação externa do Brasil vem alinhando-se a uma política neo-autoritária global de desmonte dos direitos humanos e do multilateralismo e com isso vai perdendo liderança e relevância na diplomacia ambiental global. De líder da Convenção Rio 92, passou a ser o único obstrutor das negociações da Convenção sobre a Diversidade Biológica em 2020, em uma posição de pária ambiental.
No plano interno, o cumprimento do Artigo 225 da Constituição e da legislação ambiental tem sido marcado por um verdadeiro desmonte proposital, favorecendo práticas agroindustriais poluidoras, insustentáveis e que levam violência e desrespeito aos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais, com efeito negativo para toda a sociedade e para as futuras gerações.
No plano interno, vários retrocessos comprometeram gravemente a governança ambiental do Brasil. Os retrocessos incluem o Decreto 9.806/2019, que enfraquece o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); o Projeto de Lei 2.633/2020 que incentiva a regularização de terras griladas e aumenta o desmatamento, além de paralisar os processos de demarcação de terras indígenas e tradicionais; o Projeto de Lei 191/2020, apresentado pelo governo federal, que libera a mineração em terras indígenas. Somam-se a esses, quase mil projetos de lei promovendo
retrocessos ambientais. O crescente papel das Forças Armadas na gestão ambiental na Amazônia representou maior utilização de recursos públicos e menor transparência de gastos, controle social e perda de pessoal especializado, com a exoneração de especialistas em cargos fundamentais, como vem ocorrendo no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA). O CONAMA sofreu vários ataques, como a tentativa de revogação das resoluções protegendo os manguezais e restingas, e o enfraquecimento do sistema de gestão de riscos e respostas a desastres naturais. O IBAMA e o ICMBIO sofrem cortes de 4% e 12,8%, respectivamente, nos seus modestos orçamentos, dificultando ainda mais o combate aos incêndios no País. Nos últimos dois anos houve a liberação de 500 novos agrotóxicos, 30% dos quais considerados potencialmente cancerígenos.
A Amazônia registrou em abril de 2020 um aumento de 171% de desmatamento em relação ao mesmo período de 2019, atingindo o maior patamar em mais de uma década, com 11.088 km² de devastação. O Pantanal perdeu 30% de sua área verde em 2020. No Cerrado e no Pampa, a perda de vegetação nativa já atingiu mais de 50% da cobertura original.
A abstenção do Brasil neste importante passo de fortalecimento do meio ambiente como um direito humano, a nível global, soma-se à negligência do País com os compromissos do Acordo de Paris e ao parco monitoramento do cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O próprio chefe de Estado, Sr. Jair Messias Bolsonaro, menosprezou a gravidade dos incêndios crescentes na Amazônia e no Pantanal durante seu discurso na
Assembleia Geral da ONU, em 2020. O Ministro do Meio-Ambiente, em reunião ministerial, propôs aproveitar da distração da mídia com a pandemia da COVID-19 para enfraquecer os padrões ambientais (“passar a boiada”).
Neste contexto, é de extrema preocupação a conclusão do Acordo de Associação entre a União Européia e o Mercosul, sem efetivas salvaguardas ambientais e aos direitos humanos. Tal quadro implica no sério risco de que as commodities exportadas pelo Brasil sejam produtos de desmatamento ilegal, invasão de terras indígenas, quilombolas e tradicionais, comprometimento da água, contaminação por mercúrio de comunidades tradicionais e populações indígenas, e envenenamento por agrotóxico. A atual precariedade na fiscalização ambiental por parte das
autoridades brasileiras não garante que suas commodities de exportação sejam livres de violações ao meio ambiente e aos direitos humanos.
Ao lamentarmos os retrocessos em curso no país, em meio ao descontrole generalizado da transmissão da COVID-19, que a cada dia ceifa mais vidas, exortamos à comunidade internacional a pressionar o Brasil para que não retroceda mais ainda na proteção do meio ambiente, e reconheça a importância do direito a um meio ambiente saudável como um direito humano fundamental.
Assinadas:
1. 350.org Brasil
2. ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e
Intersexos
3. ABL-ARticulação Brasileira de Lésbicas
4. ABONG – Associação Brasileira de ONGs
5. APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
6. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
7. Assessoria Popular Maria Felipa – Minas Gerais
8. Casa NINJA Amazônia
9. CEDECA Rio de Janeiro
10.Central de Cooperativas Unisol Brasil
11.Centro de Apoio aos Direitos Humanos Valdicio Barbosa dos Santos
12.Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennes
13.Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Pe Josimo-MA
14.Centro pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL
15.Coletivo LESBIBAHIA
16.Coletivo lgbt da CUT Nacional
17.Coletivo Terra do Bem
18.Collectif Alerte France Brésil / MD18
19.Comissão Pastoral da Terra
20.Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre)
21.CONAQ – Coordenação Nacional da Articulação de Quilombos
22.Conselho Indigenista Missionário – CIMI
23.CTI – Centro de Trabalho Indigenista
24.FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
25.FIAN Brasil
26.FLD-COMIN-CAPA (Fundação Luterana de Diaconia – Conselho de Missão entre Povos
Indígenas e Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia)
27.Fórum Grita Baixada (Baixada Fluminense – Rio de Janeiro)
28.Fundação Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves
29.Geledés Instituto da Mulher Negra
30.Grupo: Mulheres Pantaneiras de Cáceres MT.
31.GTP+ Grupo de Trabalhos em Prevenção PositHIVo
32.Idhesca – Instituto de direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais
33.Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
34.Instituto Cigano do Brasil-ICB
35.Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos – IDDH
36.Justiça Global
37.MORHAN Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase
38.Movimento
39.Movimento LGBT Leões do Norte
40.Movimento Nacional de Direitos Humanos MNDH Brasil
41.Plataforma DHESCA Brasil
42.RCA – Rede de Cooperação Amazônica
43.REDE GTA
44.Rede Para o Constitucionalismo Democrático Latino Americano
45.Rede Sapatà
46.Serviço de Paz – SERPAZ
47.Terra de Direitos
48.UBM – União Brasileira de Mulheres

Rede de Cooperação Amazônica

A RCA tem como missão promover a cooperação e troca de conhecimentos, saberes, experiências e capacidades entre as organizações indígenas e indigenistas que a compõem, para fortalecer a autonomia e ampliar a sustentabilidade e bem estar dos povos indígenas no Brasil.