20 anos da FOIRN

foto FOIRN

Baniwa e Coripaco comemoram aniversário de 20 anos da FOIRN na comunidade Wanalianaa

Por André Baniwa*

A FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e a Coordenadoria de Associações Baniwa e Coripaco organizaram um Encontro Sub-Regional do Içana e afluentes nos dias 1, 2 e 3 de agosto de 2007 na comunidade “Wanalianaa”. Esta foi a festa dos Baniwa e Coripaco comemorando 20 anos da FOIRN.

A comemoração que começou com “dabucuri” na noite da chegada juntando como farinha, beiju, peixe, caça, frutas, tucupi e outros para complementação da alimentação durante três dias. As dez associações (OICAI, ACIRA, UMIRA, OIBI, ABRIC, UNIB, OCIDAI, AMIBI, AIBRI, UNIA), cada um organizaram sua apresentação cultural, trabalhos, projetos e escolas indígenas (Escola Coripaco, Escola Tiradente, Escola Pamaali, Escola Kalidzamai, Escola Maadzero, Escola Paraattana, Escola Kariama, Escola Tainá Rokena) apresentaram danças e músicas tradicionais já resgatados.

O tema central do encontro foi “O significado de 20 anos do movimento indígena organizado no Rio Negro e qual a perspectiva de futuro” com objetivo de avaliar, refletir e pensar o futuro dos Povos Baniwa e Coripaco a partir da História de contato, suas organizações próprios, direitos e tradições. Neste exercício foi possível fazer uma memória desde a década de 40, e foi feita esta memória década a década até 90 e finalmente aos dias de hoje. Isto mostrou o que tem acontecido com o povo Baniwa e Coripaco.

A partir desta memória dá para chegar a uma conclusão do que significa o movimento indígena. O significado é da mais positiva possível, muitas dificuldades, mas também muitas conquistas principalmente na educação.

Reflexão sobre o passado indica também o futuro para Baniwa e Coripaco que está no planejamento sub-regional para os próximos 20 anos e assim garantir fortalecimento do Movimento Indígena no Rio Negro, comunidades e organizações; foram feitos também registro de relatos, depoimentos e imagens de danças e músicas tradicionais resgatados neste período do movimento indígena.

Os Baniwa e Coripaco quando foi criada a FOIRN em 1987, dois anos depois, cria-se primeira associação ACIRI em 1989, atualmente extinta, mas muito importante no fortalecimento do movimento indígena no Rio Negro. Por ter iniciado em Assunção do Içana (Wanalianaa), a comemoração aconteceu nesta comunidade aonde chegou forte presença dos missionários católicos, conseqüência disso, nesta parte do Içana não falam mais língua Baniwa e Coripaco que está em fase de resgate com construção de maloca local do evento e ensino médio indígena.

As mais de 7 mil pessoas Baniwa e Coripaco pertencem a família lingüística aruak e estão organizados em onze associações locais, todos filiadas a federação, e uma coordenadoria. Baniwa e Coripaco fazem parte dos 23 povos indígenas que habitam a região do Rio Negra, pertencente às famílias lingüísticas Tukano oriental, Maku e Yanomami. A população indígena desta região é de, aproximadamente, 35 mil pessoas, correspondendo a 10% do total da população indígena do Brasil, e encontra-se distribuída em 700 aldeias e sítios, numa área de 108.000 Km².

A FOIRN é de representação regional e foi reconhecida como entidade de utilidade pública estadual pela Lei nº. 1831/1987. A Federação que é uma associação civil, sem fins lucrativos e sem vínculos políticos ou religiosos, congrega 50 organizações de base afiliadas, compreendendo os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro (AM).

Desde sua fundação vem trabalhando na defesa dos direitos dos povos indígenas nas questões de demarcação de terras, educação, saúde e alternativas econômicas.

Nos últimos 20 anos, desde a criação da FOIRN, sempre com a participação Baniwa e Coripaco muitas foram às conquistas dos povos do Rio Negro. A luta inicial, pela demarcação das Terras, foi parcialmente vencida com a demarcação em 1998 das áreas na região da parte do médio e Alto Negro. As áreas do médio e baixo Rio Negro encontram-se em processo de identificação pelo FUNAI e deverão também ser demarcada ao longo dos próximos anos.

Além dos 20 anos de criação da FOIRN e da demarcação das terras do Alto Rio Negro, muitas outras vitórias foram ingredientes na comemoração pelos povos do Rio Içana e afluentes, destacando:

• 19 anos de organização do Povo Baniwa e Coripaco (1988-2007)
• 5 anos de co-oficialização das línguas, especialmente Baniwa uma das três (2002-2007);
• 7 anos da Unificação da Grafia Baniwa;
• 7 anos da Escola Indígena Baniwa e Coripaco (Escola Pamáali) que foi fundamental para implementação de outras escolas na região (2000-2007);
• 7 anos de Saúde Indígena Diferenciada no Rio Negro. Nunca se teve, antes disso serviço de saúde nas comunidades (2000-2007);
• 19 anos de direitos indígenas (nova constituição) (1988-2007);
• 9 anos de terras demarcadas e homologadas (1998-2007);
• 10 anos do início da Formação de professores Baniwa e Agentes Indígenas de Saúde (1997-2007);
• Resgate e valorização da cultura e tradição (1992-2007);
• Novas experiências e perspectivas (projetos de manejos) (2001-2007);
• 8 anos de Arte Baniwa (1999-2007);

Parte marcante deste encontro foi também no momento de homenagear às lideranças que iniciaram a luta e as lideranças atuais. A população inteira presentes participou do processo que foi através de urna. Cada um depositou nome ou nomes.

O Senhor Francisco Brazão conhecido mais como “Chico Davila” primeiro presidente da associação foi o mais lembrado seguido de outros entre eles Firmiano Arara que aparece no vídeo institucional da FOIRN. Segundo Francisco que discursou em nome dos homenageados lembrou descrença total da época, mas que hoje esta muito feliz com resultado, muito jovens na luta e disse que espera ainda ver daqui mais vinte anos poder comemorar mais vitória junto, finalizou.

Lideranças atuais também na homenagem, o mais lembrado foi o Andre Baniwa seguido de outros. O Senhor Mario Farias um dos homenageados, mais experiente, fez discurso que lembrou das dificuldades atuais, e pediu que todos estivessem cada vez mais unidos para alcançar objetivo que e melhorar a qualidade de vida e bem-estar das comunidades indígenas Baniwa e Coripaco.

Na noite de ultimo dia, o encerramento aconteceu com bolo de aniversário seguido danças e músicas tradicionais, que há mais de décadas não eram mais apresentados em públicos. Foi assim que os Baniwa e Coripaco comemoram sub-regionalmente 20 anos da FOIRN que muito fez em pouco tempo a favor do seu povo rio negrino. Os Baniwa e os Coripaco acreditam que daqui mais vinte anos o movimento indígena terá muito a conquistar e a comemorar novamente. Até lá!

*André Fernando Baniwa, diretor da Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI), diretor vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e membro do Conselho Político da RCA Brasil

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