RCA realiza Oficina de Cartografia Indígena

 

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“Eu nunca tinha feito um mapa com minhaimg_1711s próprias mãos. Sei mexer com todos os equipamentos tecnológicos, mas desenhar mesmo é a primeira vez. Gostei muito. É diferente. Quando desenhamos os mapas, não é só um trabalho com as mãos, tem todo um conhecimento que vem, são as histórias do nosso povo que aparecem.” (Maurício Yekuana/Hutukara)

Entre os dias 19 a 24 de setembro de 2016, a Rede de Cooperação Amazônica (RCA) realizou a Oficina de Cartografia Indígena, em Brasília-DF, ministrada pelo geógrafo Renato Gavazzi, da equipe da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre). Esta oficina dá continuidade às ações da RCA voltadas à formação de representantes indígenas na temática de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas. Participaram da oficina representantes de treze povos distintos, membros das organizações indígenas Apina, AMAAIAC, ATIX, CIR, FOIRN, Hutukara, OGM e Wyty Cate. Contabilizando uma carga horária de 48 horas/aula, o grupo trabalhou ao longo dos seis dias divididos entre intercâmbios e discussões sobre as questões que envolvem a elaboração dos PGTAs em suas regiões, com a socialização das diferentes experiências prévias de mapeamento ambiental e territorial desenvolvidos em cada contexto com seus parceiros, e atividades de elaboração de mapa mental e diagnóstico socioambiental das respectivas TIs e de seus entornos.

Os processos demarcatórios que contextualizam a criação das TIs estiveram em pauta durante as apresentações e embasaram a elaboração dos mapas através do levantamento dos modos de ocupação, áreas tradicionais e utilização do território, áreas de uso e manejo dos recursos naturais e agroflorestais, áreas de riscos e impactos, identificação de situações de abundância e escassez, mecanismos de mitigação e a utilização desta ferramenta de cartografia indígena como perspectiva para a elaboração comunitária de estratégias de transmissão de saberes, enfrentamento aos riscos e impactos e gestão de suas TIs.

img_1987O grupo de lideranças indígenas que participou da oficina se mostrou particularmente interessado pelas diferenças e especificidades dos contextos apresentados, assim como pelas estratégias locais criadas para lidar com as dificuldades enfrentadas em cada área. Para além da capacitação nesta metodologia de trabalho de mapeamento territorial, que se constitui a partir das visões, saberes e formas de relação estabelecidas por cada povo com o seu território, destacou-se nessa oficina a possibilidade dos representantes indígenas de ampliar e aprofundar o olhar sobre a situação heterogênea das terras indígenas na Amazônia brasileira e as ameaças que as cercam.

Durante a oficina Renato Gavazzi apresentou o projeto de formação dos Agentes Agroflorestais Indígenas desenvolvido no Acre, capacitando agentes para conduzir os processos de recuperação, através do manejo de agroflorestas e gestão territorial e ambiental em áreas desmatadas. Robert Muller, coordenador do Projeto GATI, apresentou para os participantes da oficina as publicações do projeto contextualizando as ações que foram desenvolvidas ao longo dos anos de duração do GATI. Durante as noites foram realizadas exibições de materiais audiovisuais produzidos por cada povo, entre eles “A placa não fala”, “Para onde foram as andorinhas”, “Encontro de mulheres Yanomami”.img_1700

O grupo esteve ainda no Festival de Cinema de Brasília para a estréia do filme “Martírio”, de Vincent Carelli, sobre a situação dos Guarani Kaiowa do MS, e conheceu a Esplanada dos Ministérios, o Palácio da Alvorada e o Congresso Nacional. A realização desta oficina contou com apoio da Rainforest Foundation Noruega.

“A minha esperança de estar aqui com vocês é somar esta luta, compartilhar, nós somos conhecedores. Nós temos que ter a norma, a lei que rege o nosso território como nos ensinaram nossos mestres, do nosso povo. Mas também temos que ter a norma e a lei dos brancos, que é um mecanismo que temos que aprender para defender a nossa terra. A oficina ocorrida foi muito aprofundada, construtiva, muitas experiências das outras regiões sobre as organizações sociopolíticas e seus Planos de Gestões Territoriais e Ambientais. Conhecemos a realidade de cada região que está afetada diretamente pelos impactos causados pelos garimpos, extrações de madeiras ilegais, desmatamentos, pesca ilegal e pesca esportiva. Então assim entendemos e conhecemos a realidade de cada território indígena apresentada nessa oficina de cartografia. Fizemos os mapas e apontamos as atividades positivas das comunidades e negativas relacionadas alguns povos nos seus territórios, apontamos também os problemas internos das áreas indígenas. Fizemos o mapa do Xingu e mostramos os projetos em img_1887andamentos nas aldeias, no Alto Xingu, Médio Xingu, Leste Xingu e Baixo Xingu: Manejo de tracajá, processamento de pequi, Apicultura, Reflorestamento da área degradada, cata de semente, pimenta. Assim também mostramos os problemas que Xingu tem no seu arredor de desmatamento, ferrovia, estradas, barragem. Então assim foi a oficina, gostei muito, vai me ajudar muito no meu trabalho junto com a comunidade, meu povo. Principalmente no trabalho de gestão territorial e ambiental, então foi muito importante pra mim.” (Karin Juruna/Atix)

Para acessar o Álbum de imagens da Oficina.

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Rede de Cooperação Amazônica

A RCA tem como missão promover a cooperação e troca de conhecimentos, saberes, experiências e capacidades entre as organizações indígenas e indigenistas que a compõem, para fortalecer a autonomia e ampliar a sustentabilidade e bem estar dos povos indígenas no Brasil.