“Pela vida dos povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e demais povos e comunidades tradicionais”

A RCA assina a Carta Aberta ao Congresso Nacional, somando-se à iniciativa da Frente Parlamentar Mista para Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e mais de 200 assinaturas – de parlamentares, frentes, partidos, organizações sociais, indígenas, indigenistas, sindicatos e comitês – para solicitar a derrubada dos vetos presidenciais ao Projeto de Lei 1142/20 que prevê medidas emergenciais de proteção aos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais durante a crise provocada pela Covid-19.

O presidente Bolsonaro em mais um ataque gratuito e arbitrário aos povos indígenas sancionou a Lei 14.021/20, que dispõe sobre a proteção de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais frente à pandemia, com vetos que desestruturam e inviabilizam a proposta do Projeto de Lei aprovado pelo Congresso e Senado.

Foram vetados trechos relativos à liberação do recurso emergencial para a saúde indígena e à obrigatoriedade do Estado em fornecer água potável, materiais de higiene, leitos hospitalares, UTIs, ventiladores e máquinas de oxigenação, distribuição de cestas básicas, acesso diferenciado ao auxílio emergencial e a instalação de internet nas aldeias, entre outros. Os vetos negam condições mínimas necessárias para a sobrevivência destas comunidades diante do impacto alarmante da transmissão comunitária de Covid-19.

No início de abril, a Organização dos Estados Americanos (OEA) alertou em nota pública que os povos indígenas enfrentam uma situação de dupla vulnerabilidade devido ao seu isolamento geográfico e marginalização histórica, razão pela qual instou os Estados a protegerem o bem-estar e a saúde de suas populações indígenas. Mas a resposta do governo brasileiro ao impacto da pandemia não tem sido satisfatória em nenhum nível, colocando o país em alerta na lista dos mais afetados mundialmente, com mais de 74 mil óbitos. No caso dos povos indígenas, que historicamente já vivenciaram pandemias devastadoras de doenças vindas de fora, o impacto da transmissão comunitária da Covid-19 é mais grave e instaurou uma crise humanitária, sobretudo nos povos indígenas da Amazônia que têm contabilizado perdas irreparáveis de sábios e lideranças. Desde a primeira morte indígena registrada no dia 20 de março, de uma anciã do povo Borari do Pará, o Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, criado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), contabilizou que a Covid-19  já alcançou 130 povos indígenas, com mais de 14 mil casos confirmados e 508 óbitos verificados até o dia 14 de julho. O estudo “Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional”, da Universidade Federal de Pelotas (UFPE) e Ministério da Saúde, demonstra que a taxa de letalidade por Covid-19 entre os povos indígenas é significativamente superior à média da população brasileira, registrando um índice de 9,6% contra 5,6% entre os brasileiros e indicando os povos indígenas como um grupo altamente vulnerável à pandemia. Uma análise realizada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), junto com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM),  sugere que o número de casos e óbitos entre os índios é três vezes maior do que a população geral, sendo a taxa de mortalidade pelo coronavírus entre indígenas 150% mais alta do que a média brasileira, e 20% mais alta do que a registrada na região Norte – a mais elevada do país. Mas Bolsonaro nega o apoio emergencial do Estado, aprovado pelo Congresso Nacional, e viola os direitos destes povos, colocando suas vidas em risco! Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) já se contabilizam 133 falecimentos por Covid-19 entre as comunidades quilombolas, que registram 3.400 casos confirmados. Entretanto, os vetos também excluem os quilombolas da implementação do Plano Emergencial para enfrentamento à Covid-19; assim como a obrigatoriedade de elaboração de planos de contingências para o enfrentamento da pandemia entre os povos indígenas isolados e de recente contato.

Diante do caráter emergencial da situação e dos vetos presidenciais, a Carta Aberta ao Congresso, intitulada “Pela vida dos povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e demais povos e comunidades tradicionais”, solicita aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que priorizem esta pauta para derrubar os vetos, fazendo valer o direito à vida destes povos!

Acesse a Carta aqui.

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