RCA realiza terceiro Intercâmbio de Cadeias Produtivas da Sociobiodiversidade no Acre
Membros das organizações da RCA se reúnem no Centro de Formação dos Povos da Floresta
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De 13 a 17 de maio de 2024, a RCA realizou no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco, Acre, seu terceiro intercâmbio de experiências focado em cadeias produtivas da sociobiodiversidade. Este intercâmbio foi precedido de outros dois intercâmbios (no Rio Negro, em 2022, e no Território Indígena do Xingu em 2023). Este novo intercâmbio reuniu representantes das 14 organizações-membros da rede RCA que durante cinco dias compartilharam suas experiências locais e conheceram as iniciativas do Centro de Formação dos Povos da Floresta e dos agentes agroflorestais indígenas do Acre.
O Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF), sede da Comissão Pró-Indígena do Acre (CPI-Acre), tem uma longa história de apoio aos povos indígenas do estado. Fundada em 1979, a CPI-Acre é uma organização sem fins lucrativos que apoia os direitos coletivos dos povos indígenas. Durante o intercâmbio, os participantes aprenderam sobre a história da CPI-Acre e a formação dos agentes agroflorestais indígenas (AAFI) em uma palestra de Renato Gavazzi, coordenador pedagógico e cofundador do Centro. Renato explicou as modalidades de formação dos AAFI e destacou a importância dos agentes como incentivadores das comunidades nas ações de gestão territorial e ambiental.
O grupo conheceu o sistema de coleta de água da chuva, espaços de horta agroecológica, criação de patos e quelônios, sistemas de meliponicultura e criação de peixes. Os agentes agroflorestais indígenas formados pelo CFPF explicaram o processo de reflorestamento da área e a tecnologia de captação de água da chuva. O Centro foi completamente reflorestado com espécies nativas como pupunha, embaúba, açaí, buritis, castanheiras e favelas, além de frutíferas e plantios específicos para alimentação de peixes.
Ronaldo Anicá, agente ambiental indígena da AGAMIN e representante da AMIM no intercâmbio, descreveu sua experiência na atividade:
"O intercâmbio foi muito produtivo, visitamos muitas iniciativas e vamos levar para nossa comunidade para tentarmos fazer na prática o que aprendemos. Nós podemos incentivar e passar o que aprendemos para frente. Gostei muito da família de agricultores que fomos visitar, eles conseguem produzir muito e vender dentro de um pequeno território. Nós, povos indígenas, temos muita terra e podemos produzir muito também”.
Os participantes também visitaram a CoopeAcre, uma cooperativa de agroextrativistas criada nos anos 2000. José Rodrigues Araujo, presidente da CoopeAcre e ex-seringueiro, apresentou a história da cooperativa e sua importância no estado. A CoopeAcre trabalha com 2.500 famílias extrativistas e da agricultura familiar, beneficiando e comercializando produtos como borracha, castanha, café, palmito pupunha, açaí e polpa de frutas. José Rodrigues destacou os objetivos da CoopeAcre de criar uma aliança na área da bioeconomia e valorizar o pequeno produtor através do trabalho em rede: "Se a CoopeAcre cresce, o produtor também cresce”.
Visita à uma das sedes da CoopeAcre em Rio Branco.
Além de palestras e momentos de troca, destacamos a visita ao Projeto Tamazon – Tartarugas da Amazônia, na Fazenda Estância Terra, onde Valmir Gomes, um produtor experiente de quelônios há 30 anos, compartilhou seu conhecimento sobre a criação e os desafios na reprodução de tracajás e outras espécies de quelônios.
Também foi feita uma visita aos produtores da agricultura familiar na comunidade Polo Benfica, Miguel e Marlinda, um casal indígena dos povos Marubo e Guarani. O grupo de participantes conheceu o assentamento de 3 hectares e as técnicas de agricultura tradicional e familiar do casal que comercializa seus produtos em feiras locais. O casal utiliza métodos tradicionais de manejo e cultivo, e ainda produz seu próprio biofertilizante e húmus com recursos locais. A experiência foi profundamente enriquecedora, permitindo que Miguel e Marlinda compartilhassem seu vasto conhecimento, enfatizando a importância da autonomia e da resistência territorial para os povos indígenas.
O intercâmbio propiciou uma rica e valiosa troca de experiências sobre as iniciativas em cadeias produtivas da sociobiodiversidade no estado do Acre, e também das organizações da rede RCA que participaram do evento, compartilhando diferentes experiências desenvolvidas em seus territórios. A fala de Sinézio Mota, agente agroflorestal e representante do CIR, resume um pouco a experiência:
"Estamos buscando sim a autonomia nas nossas comunidades. Não só nós jovens, mas também as mulheres. Essa estrutura do centro de formação é muito inspiradora. Vou levar isso para minha comunidade. Todas as coisas que vi aqui viraram um norte. É uma experiência nova”.
O intercâmbio no Acre foi realizado em parceria com a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-AC), Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) e Associação dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIC), com apoio da Fundação Rainforest da Noruega, no âmbito do desenvolvimento do projeto ForEco - Economias da Floresta.