Representantes indígenas da RCA participam do Encontro de Mulheres Indígenas no Oiapoque

Entre os dias 29 e 31 de julho de 2019, mais de 200 mulheres de 19 povos indígenas (Kawaiwete, Krikati, Yanonami, Yawanawa, Nukini, Kaxinawa, Tariano, Tukano, Macuxi, Wapichana, Wayana, Aparai, Tirió, Kaxuyana e Mebengokré/Kayapó, além das anfitriãs Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali’na e Palikur ) participaram do Encontro Regional de Mulheres Indígenas no Oiapoque: plantas medicinais, territórios e mudanças climáticas, organizado pela Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão – AMIM, com apoio RCA, na aldeia Manga, TI Uaçá, no município de Oiapoque (Amapá). Estiveram presentes representantes de 8 organizações indígenas da RCA (AMAAIC, AMIM, ATIX, CIR, FOIRN, Hutukara, OPIAC e Wyty Catë). O encontro também contou com a presença da antropóloga Lux Vidal e das representantes da Rainforest, Ellen Ribeiro e Martina Duffner.

Mulheres na política

A participação das mulheres indígenas na política dentro e fora da aldeia vem aumentando e se fortalecendo nos últimos anos, e a troca de experiências entre mulheres que se encontram em diferentes etapas de organização coletiva é fator fundamental para estimular aquelas que ainda estão no início da caminhada. No Encontro de Mulheres Indígenas no Oiapoque, mulheres de diferentes regiões da Amazônia compartilharam suas trajetórias de organização política, a começar pelas representantes da AMIM, que é a primeira organização de mulheres indígenas a ser membro da RCA.

Dona Elza Figueiredo, uma das fundadoras da AMIM, contou sobre a dificuldades que as mulheres indígenas de Oiapoque enfrentaram para estruturar sua associação. “Os homens eram os protagonistas das reuniões e assembleias, e nós mulheres ficávamos tomando conta dos filhos e da cozinha”, relembrou dona Elza, que começou a atuar no movimento indígena aos 22 anos. Já na abertura do Encontro era possível constatar que os tempos são outros: enquanto a plenária e a mesa eram compostas quase exclusivamente de mulheres, os homens trabalhavam duro na cozinha para preparar as refeições que alimentaram quase duas centenas de mulheres durante os três dias de evento. Curiosos, no intervalo entre o preparo de uma refeição e outra, eles se debruçavam nas cercas que contornavam o espaço de reunião para ouvir o que as mulheres tinham a dizer.

Mulheres de outros lugares da Amazônia também narraram as trajetórias do movimento de mulheres indígenas de suas regiões. Rosângela Lima, do povo Wapichana, e Dioneide Pereira, macuxi, falaram sobre a criação e a trabalho do Movimento de Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que executa diversas atividades produtivas sustentáveis nas TI Raposa Serra do Sol, como a produção de pimenta, na região do Amajari, e de gado na região do Surumu. Nedina Yawanawa, representante da OPIAC, contou sobre o importante papel que o movimento de mulheres indígenas do Acre teve no fortalecimento do trabalho das parteiras tradicionais “Percebemos que as parteiras precisavam ter mais formações, inclusive nos conhecimentos tradicionais, para fortalecer as suas práticas, pois as mulheres não estavam mais querendo ter filhos com as parteiras, por exemplo. Queriam ter o parto na cidade. Esse nosso trabalho trouxe novamente estas práticas”, explicou Nedina.

Amairé Kaiabi Suiá, da recém-criada ATIX Mulher – Coordenação das Mulheres do Território Indígena do Xingu, relatou o longo processo que culminou no surgimento do setor feminino da ATIX. “A articulação das mulheres já vinha de algum tempo, mas nos últimos dois anos lutamos para intensificar a nossa participação nos espaços políticos, e para concretizar a ATIX Mulher, para que nós pudéssemos conquistar um espaço definido dentro da associação, e batalhar para realizar nossos próprios projetos”, lembrou Amairé. A ATIX Mulher foi criada em maio deste ano, durante a Assembleia Geral das Mulheres do Xingu, que contou com a presença de duas convidadas do Departamento de Mulheres do Rio Negro, Elizângela Costa e Rosilda Tukano, cujas participações foram apoiadas pela RCA. “As mulheres do Rio Negro foram nossas madrinhas, nos encorajaram muito com o trabalho que vem fazendo”, contou Amairé.

Troca e fortalecimento de saberes tradicionais

Além das mesas temáticas sobre a participação política das mulheres, a programação do Encontro foi formada por oficinas de troca de conhecimentos sobre parteiras, alimentos tradicionais, plantas medicinais, banhos, sabonetes e shampoos naturais, pintura corporal com jenipapo, produção com miçangas e confecção de cuias.

A programação  contou, ainda, com feira de artesanato e intercâmbio de mudas e sementes, além de visitas a uma roça Karipuna e à cachoeira da aldeia Manga. O filme Quentura, também foi exibido para as participantes. Após o encerramento do Encontro, a delegação da RCA realizou uma visita a duas aldeias da TI Uaçá: a aldeia Açaizal, onde conheceram os projetos de manejo de citros, banana, açaí e meliponicultura, e aldeia Santa Isabel, onde mora a presidente da AMIM, Dona Bernadete.

No retorno para Macapá, no dia 03 de agosto, foi realizada uma parada na cidade de Oiapoque para visita ao Museu Kuahi dos povos indígenas de Oiapoque, conduzida pela coordenação da AMIM e pela antropóloga Lux Vidal, e uma visita e almoço na aldeia Ahumã, onde foram recebidas pela Cacica Creuza.

O evento foi organizado e realizado pela Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM), contando com a parceria e apoio da Rede de Cooperação Amazônica – RCA, CESE, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena – Iepé,  e da The Nature Conservancy no Brasil – TNC.

 

 

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