Povos indígenas apresentam exigências para a COP28

Envolvido em escândalos, Sultan Ahmed Al Jaber recebe líderes indígenas em Bonn, na Alemanha, e diz que seus pleitos serão prioridade na Conferência do Clima.

Andréia Fanzeres/OPAN

Brasileiros participam da reunião do Caucus Indígena com o presidente da COP28.
Foto: Patricia Zuppi/RCA

Representantes do Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas (Caucus Indígena) reuniram-se nesta quinta-feira, dia 8 de junho, com Sultan Ahmed Al Jaber, presidente da COP28. Alvo de protestos, envolvido em polêmicas sobre sua ligação com a indústria do petróleo e com a propensa falta de ambição no avanço das negociações, em especial sobre o fim da queima de combustíveis fósseis, Ahmed Al Jaber atendeu a um pedido do Caucus Indígena para uma conversa durante a Conferência SB58, em Bonn, na Alemanha. Os povos indígenas das sete regiões socioculturais reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) exigiram condições adequadas de acessibilidade e participação na COP28, que será realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Lideranças indígenas do Brasil participaram da reunião, entre elas Dineva Kayabi, convidada a sentar-se na mesa principal pela co-presidente do Caucus Indígena, Hindou Ibrahim, ao lado de outros detentores de conhecimentos tradicionais e jovens indígenas. Ahmed Al Jaber ouviu de Hindou pedidos específicos, como para que na COP de Dubai haja garantido um pavilhão indígena, condições para diálogos de alto nível com as Partes da Convenção do Clima (Estados) e um dia dedicado aos povos indígenas na COP28, com foco no tema de Justiça de Transição Energética. Frisou, ainda, que os povos indígenas devem estar nos eventos mais importantes e decisivos.

Na primeira intervenção realizada por cada representante regional indígena, o jovem panamenho Onel Massardule, em nome da América Latina e Caribe, lembrou que em dois anos o Brasil deverá sediar uma COP e que, mais do que nunca, os brasileiros precisam ter o direito de participar da convenção usando seu próprio idioma. Isso não é assegurado hoje nos eventos da Convenção do Clima porque o português não é língua oficial da ONU e converge com um dos principais pleitos que há anos os representantes indígenas do Brasil vêm apresentando aos espaços oficiais da UNFCCC.

Os líderes expressaram preocupação com a disponibilidade e viabilidade de acomodações, emissão de vistos, em particular de indígenas da própria Ásia, região que ancora a COP neste ano. Também pautaram a importância da inclusão dos povos indígenas nas agendas estratégicas, como “Perdas e Danos”, argumentando que os impactos das mudanças climáticas ocorrem no nível local, afetando os territórios e povos, que devem ter acesso direto a fundos para lidar com esta finalidade. Os povos indígenas pediram que a Presidência da COP28 tenha responsabilidade moral e política para defender seu posicionamento.

A presidência da COP28 assegurou que a pauta indígena será prioritária. “Nós estamos trabalhando para dar uma resposta mais compreensiva e holística para a participação efetiva dos povos indígenas na COP28. Tenho certeza de que não vamos deixar ninguém para trás”, disse Ahmed Al Jaber.

Reunião da Presidência da COP28 com povos indígenas na sede da UNFCCC, em Bonn/Alemanha.
Foto: Patricia Zuppi/RCA

A delegação indígena do Brasil em Bonn é composta por Sineia Wapichana, do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e coordenadora do Comitê Indígena de Mudança Climática do Brasil (CIMC), Toya Manchineri, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Cassimiro Tapeba, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME) representando a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e membro do CIMC, Ianukula Kaiabi Suia, presidente da Associação dos Povos Indígenas do Xingu (ATIX), Eliane Xunakalo, presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Eliel Rondon (Fepoimt), Kaianaku Kamaiura (Coiab) e Dineva Maria Kayabi (Coiab e Rede Juruena Vivo) e tem apoio da Rede de Cooperação Amazônica (RCA), Operação Amazônia Nativa (OPAN) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

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