Intercâmbio de gestão territorial na TI Tenondé Porã, do povo Mbya Guarani, em São Paulo

No dia 28 de março, uma delegação da Rede de Cooperação Amazônica – RCA visitou a aldeia Kalipety, do povo Mbya Guarani, na Terra Indígena Tenondé Porã, localizada na área rural da capital de São Paulo, para um intercâmbio com foco nos processos de gestão territorial. A RCA tem promovido intercâmbios entre diferentes povos indígenas da Amazônia para propiciar o contato, o aprendizado e a troca de distintas experiências e processos de proteção e sustentabilidade territorial, ambiental, econômica e cultural. Dessa vez, os representantes das organizações da RCA – AMAAIAC, AMIM, Apina, ATIX, CIR, CPI-Acre, FOIRN, Iepé, OGM,  e OPIAC – puderam conhecer um contexto bastante distinto dos seus próprios, tanto no que se refere ao bioma, quanto à extensão e ao processo de legitimação territorial e, ainda, à proximidade em relação ao maior centro urbano da América Latina; aspectos que ensejam desafios e estratégias específicas para a gestão do território.

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Troca de conhecimentos e fortalecimento político marcam intercâmbio de mulheres indígenas do Amapá, norte do Pará e Amazônia

66 mulheres de 15 povos discutiram as dificuldades para a sua participação na política, os desafios enfrentados na educação e na saúde indígenas e as ameaças aos direitos indígenas previstas para 2019

Algumas das 66 participantes do intercâmbio

Entre os dias 22 e 24 de novembro de 2018, 66 mulheres de 15 povos indígenas (Aparai, Tiriyó, Txikiyana, Wayana e Katxuyana, da TI Parque do Tumucumaque, Karipuna, Palikur e Galibi Marworno, do Oiapoque, Shanenawa e Katukina, do Acre, Sapará e Wapichana, de Roraima, Baré, do Amazonas, e Kaiabi, do Xingu, além das anfitriãs wajãpi) participaram do Intercâmbio Regional de Mulheres Indígenas do Amapá, norte do Pará e Amazônia, realizado pela Rede de Cooperação Amazônica (RCA), no Centro de Formação e Documentação Wajãpi, Terra Indígena (TI) Wajãpi, no Amapá. Estiveram presentes representantes de 7 organizações indígenas da RCA (AMAAIC, AMIM, Apina, ATIX, CIR, FOIRN e OPIAC), além de mulheres da TI Parque do Tumucumaque, convidadas pelo Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena.

Durante os três dias em que estiveram juntas, as participantes contaram umas às outras sobre os seus contextos de vida, compartilharam experiências sobre a sua participação na política dentro e fora das aldeias, visitaram roças, discutiram sobre as diferentes técnicas de plantio e espécies cultivadas, e apresentaram suas danças, cantos, pinturas corporais, e artefatos. Além disso, a partir dos problemas e demandas específicos identificados pelas representantes de cada povo, foi construído um conjunto de reivindicações coletivas sobre educação, saúde, alimentação, defesa dos direitos indígenas e valorização dos conhecimentos tradicionais, reunidas no documento final do intercâmbio.

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Intercâmbios 2007, Resultados

Gestão territorial indígena foi o tema do novo intercâmbio da Rede de Cooperação Alternativa

por Andreza Andrade / ISA*

Grupos de indígenas e indigenistas, reuniram-se em São Gabriel da Cachoeira (AM), entre 11 e 26 de novembro para mais um encontro promovido pela Rede de Cooperação Alternativa. Vieram de diversas partes do Brasil, alguns se aventurando pela primeira vez a viajar em aviões e barcos, meios de transporte que não são comumente utilizados em determinadas áreas indígenas. Vieram para conhecer as experiências de gestão territorial indígena do Rio Negro e compartilhar as suas.

Formado por 35 pessoas, o grupo foi recebido pela Foirn-Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e a equipe Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental, anfitriões do intercâmbio. A Rainforest da Noruega (RFN) deu apoio ao evento, cujo objetivo foi identificar e sistematizar de que forma cada povo ali representado pensa a sua gestão territorial e quais os principais desafios enfrentados. Os visitantes representavam o IEPÉ (Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena); o CTI (Centro de Trabalho Indigenista); a CPI (Comissão Pró-Índio); a CCPY (Comissão Pró-Yanomami); a HAY (Hutukara Associação Yanomami); a Opiac (Organização dos Professores Indígenas do Acre); a Apina (Conselho de Aldeias Wajãpi do Amapá); a Atix (Associação Terra Indígena do Xingu), e ainda os povos Guarani, Iawalapiti e Tirió.

O destino do grupo eram três calhas de rio do Alto Rio Negro, o rio Içana, o Uaupés e o Tiquié. E assim se dividiram em três equipes. Para o Içana foram dois representantes do povo Iawanawa, um Kaxinauá e um Guarani. Para o rio Uaupés foram três representantes dos povos do Xingu e um Yanomami. E para o Tiquié foram dois Panará, dois Wajãpi, um Yanomami e um Guarani. As equipes ficaram em área indígena por cinco dias e ao retornarem para a cidade de São Gabriel fizeram a sistematização do que puderam observar durante as visitas.

foto SETCOM/FOIRN

Equipes saem de barco em direção ao Uaupés, Tiquié e Içana

No Içana, alunos e professores manuseiam tecnologias

“A paisagem ainda é intacta, não tem lixo nas comunidades, nem pessoas doentes, gostaria que alguns velhos do meu povo estivessem comigo pra ver o quanto o rio e a floresta são bonitos por aqui”, disse João Iawanawa, do Acre, integrante do grupo que foi para o rio Içana. O fato de as comunidades Baniwa ainda falarem sua língua chamou a atenção do grupo: “A língua é um elemento muito importante para a preservação da nossa cultura e mesmo que os parentes Baniwa tenham sido evangelizados, continuam fortes com suas tradições, falando sua língua, comendo sua comida e até dançando”, observou Fernando Iwanawa.

O ponto final da viagem era a Escola Indígena Baniwa e Coripaco Pamáali (EIBC), onde puderam conhecer o ensino por meio da pesquisa. A novidade para o grupo foi a participação dos alunos nas pesquisas, porque nas escolas Yawanawa quem faz a pesquisa são apenas os professores. “Essa experiência de pesquisar junto com os alunos é nova para mim, vejo que esse método é muito mais rico, por isso vou levar essa idéia pra minha escola”, disse João Yawanawa.

O grupo observou a habilidade de alunos e professores no manuseio da tecnologia, como no caso dos computadores, GPS e instrumentos do laboratório da Estação de Piscicultura da escola. “Eles aprendem a usar essa tecnologia como ferramenta pedagógica, isso é muito interessante”, afirmou Walmar Kaxinawá.

Ao conhecer a piscicultura da EIBC, os participantes do grupo observaram que em suas regiões, a forma que encontraram de manejar igarapés, rios e floresta para não faltar peixe nem caça, foi resguardando determinados locais por um ou dois anos sem nenhuma atividade. “Não pensamos fazer piscicultura, ou qualquer criação com animais presos, porque conseguimos conscientizar as nossas comunidades a respeitarem esses locais, mas vejo que aqui no Rio Negro a piscicultura ainda é necessária, pois ela está aliada ao trabalho dos agentes de manejo que estão nas comunidades conscientizando sobre caça e pesca”, disse Fernando Yawanawa.

No Tiquié, a escola fortalece a língua e as tradições

O grupo que subiu o rio Tiquié, parou em algumas comunidades para conhecer experiências de manejo e artesanato. Mas foi em São José II, na Escola Tukano Yupuri, que puderam ver como são formados esses agentes do Médio Tiquié. Em Caruru-Cachoeira conheceram a Estação de Piscicultura local, e em São Pedro, comunidade do povo Tuyuka, visitaram a Escola Indígena Tuyuka Utapinopona. Conversaram com alunos e professores sobre o ensino na escola e viram o quanto a língua permanece viva, seja nas conversas das pessoas ou nas placas que sinalizam lugares da comunidade. Ouviram do professor Higino Tenório, a luta do povo Tuyuka para revitalizar a sua língua e tradições, onde a escola se tornou difusora desse movimento na região. “Os missionários diziam que a nossa cultura era diabólica, por isso nos induziram a parar com as cerimônias, de falar nossa língua e abandonar nossa Maloca. Mas o movimento indígena nos trouxe a consciência de que se não tomássemos uma atitude seríamos extintos. Por isso pensamos numa escola que nos ajudasse a reviver as nossas tradições e valorizar a nossa cultura, e aí está ela, fortalecida, e formando cidadãos e lideranças Tuyuka”, explicou. O grupo visitou ainda a comunidade de Cachoeira Comprida, onde recentemente foi inaugurada uma Maloca.

No Uaupés, a cidade dos índios

A equipe que subiu o rio Uaupés em direção a Iauaretê e Caruru Cachoeira. pôde vivenciar experiências “impactantes”, como o tamanho do prédio da missão salesiana local e ouvir histórias do tempo das missões e como os missionários influenciaram a vivência dos povos que lá habitam.

“Iauaretê é uma cidade dos índios, lá existe centro comercial, um grande hospital, representação da prefeitura, correios e outros elementos de cidade”, informou Ianukulá Kaiabi. Conversando com as lideranças locais e caminhando pelas ruas, puderam compreender um pouco a composição social e espacial do lugar, onde “bairros-comunidade”, representados por seus capitães, formam a pequena cidade.

Ficaram sabendo dos problemas sociais do distrito e o que as lideranças estão fazendo para solucioná-los. Conheceram o projeto de piscicultura local e as Malocas Tariana e do Cerci (Centro de Revitalização da Cultura Indígena). Estiveram na Cachoeira das Onças, que foi registrada pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial porque representa o mito de origem dos povos da região. Viram também a fúria e a beleza das corredeiras do alto Uaupés, para assim chegar a Caruru-Cachoeira, território do povo Wanano. Foram recebidos com palmas no momento em que entraram na Maloca, deixando o grupo bastante emocionado. “Vimos que em Caruru a cultura permanece mais preservada e que a escola Kumuno Wu’u tem seu papel importante pra manter viva a cultura dos Wanano”, disse Ianukulá Kaiabi.

Educação, manejo e sustentabilidade marcam sistematização do intercâmbio

Durante o seminário de sistematização, depois da volta dos grupos à cidade de São Gabriel, várias impressões foram relatadas tendo como referência a observação na gestão territorial praticada pelos anfitriões do Rio Negro. Alguns dos pontos mais citados foram a educação, o manejo e a sustentabilidade.

Os índios informaram que a gestão dos seus territórios era feita muito antes do contato com os brancos, quando os primeiros seres da mitologia de cada povo criaram o mundo. Tudo foi pensado pelos ancestrais para que não faltasse comida e nem terra para os povos. Após o contato, o modo tradicional foi sofrendo mudanças drásticas, umas muito radicais (como a redução dos territórios Guarani), outras amenizadas por condições naturais de isolamento e por políticas públicas destinadas à proteção aos povos indígenas, onde a demarcação de terras é um dos elementos mais importantes.

A gestão territorial empreendida pelos povos indígenas hoje, enfrenta problemas de diversas naturezas dependendo de como se desenrolam em cada realidade. Os mais comuns são: a ausência de recursos naturais tradicionalmente usados, causados muitas vezes pelo aumento populacional empreendido pelo sedentarismo; longo processo de catequização missionária; incorporações de novas necessidades como bens e serviços de “fora”; invasões dos mais diversos tipos como de garimpeiros, fazendeiros e até mesmo das cidades que devido ao crescimento da urbanização, ameaçam terras como as dos Guarani.

Garimpo é ameaça

Os povos do Rio Negro, os Yanomami e os Wajãpi já sofreram e ainda sofrem com a ameaça de invasões garimpeiras desde a década de 1980. As conseqüências foram muitas, como mortes, degradação ambiental, conflitos e doenças. Porém, no Rio Negro e também no território dos Wajãpi depois da demarcação das terras indígenas, a onda de invasão garimpeira acabou. Entretanto, essa ameaça ainda é iminente em terras Yanomami. “Mesmo que a nossa terra esteja reconhecida e homologada pelo Governo, ainda existem pequenos focos de garimpos dentro do nosso território”, relatou Anselmo Xiropino Yanomani.

Já em outras regiões como no Xingu, o avanço das plantações de soja, tem trazido diversos problemas às populações que habitam a Terra Indígena Xingu. “Quando saímos de avião da nossa região vimos pela janela o quanto não temos mais mata, o Xingu é apenas uma ilha. E aqui não, vimos que o verde não acaba, um dia o Xingu foi assim”, relatou Winti Kisêdjê. O desmatamento atinge principalmente o rio Xingu, que banha toda a TI. As cabeceiras do rio se encontram fora dos limites do Parque do Xingu: estão entre fazendas e áreas desmatadas, e as conseqüência são o assoreamento e a poluição das águas. Daí a participação dos povos do Xingu na Campanha Y Ikatu Xingu, organizada pelo Instituto Socioambiental e outras organizações da região, destinada a mobilizar quem vive no entorno do Parque do Xingu, para a preservação das nascentes e matas ciliares do rio.

foto ianukula kaiabi

Índios e indigenistas no encontro da RCA em São Gabriel da Cachoeira (AM)

Os Guarani têm suas terras praticamente ilhadas pelas grandes cidades do sudeste e sul do Brasil. Leonardo Whera Tupã e Márcio Rodrigues, representantes do povo Guarani observaram a grandiosidade das terras indígenas do Rio Negro e contaram que os Guarani estão em situação critica: “Aqui vocês têm muita terra, têm espaço pra praticar seus saberes e conhecimentos. Lá no sudeste e sul, não temos terra, a nossa sobrevivência até os dias de hoje se deveu à nossa força espiritual porque soubemos lidar com o processo de aculturação que o branco tentou passar para nós”, disse. “Mesmo com pequenas e poucas terras, falamos nossa língua, praticamos nossos rituais, e mais recentemente estamos nos organizando para melhor lutar por aquelas aldeias que ainda não tem seu espaço”.

O que fazer com o lixo?

Os problemas com o lixo produzido nas comunidades e a sua destinação também é comum entre todos, principalmente quando se trata de lixo tóxico como no caso das pilhas e das baterias inutilizadas. Alguns povos, como os Yanomami conseguiram uma parceria com a Funasa que faz o transporte desse lixo até a cidade. Mas isso não acontece com outros povos como os do Rio Negro. Mesmo que algumas comunidades recolham suas pilhas, não há meios de transporte para trazê-las até a cidade e a Funasa local não se prontificou a fazer isso. No Xingu o problema se repete. “Havia pessoas que tiravam o pó preto de dentro das pilhas e usavam na pintura corporal ou na pintura dos artesanatos, sem saber o perigo que isso representa. Passamos a fazer um trabalho de conscientização nas comunidades e assim elas passaram a separar esse lixo. Só que não temos como levar para a cidade, o transporte não é constante”, contou Winti Kisêdjê.

Por conta disso, o PAC Indígena, anunciado pelo presidente Lula em setembro, foi lembrado, já que prevê saneamento básico nas aldeias. “Por isso precisamos acompanhar de perto as medidas anunciadas para saber se esse problema será solucionado”, disse André Baniwa, diretor da Foirn e membro do Conselho Político da RCA.

Outra dificuldade comum entre os grupos é o descaso de algumas secretarias estaduais de educação (Seduc) em relação à educação escolar indígena. As mais citadas foram a Seduc do Amazonas, Pará e Amapá. No Rio Negro, os processos de continuidade de educação escolar indígena no âmbito do ensino médio não estão avançando por que não há interesse por parte da Seduc/AM em apoiar as escolas de ensino diferenciado. Já povos como os do Acre, encontram apoio no governo estadual. “Dentro da Seduc do Acre, temos total apoio da gerência de educação indígena, inclusive temos representantes indígenas dentro da secretaria”, relatou o professor João Yawanawa. “Vamos propor às nossas secretarias estaduais de educação que façam intercâmbio com a Secretaria de Educação do Acre”, propôs Higino Tenório Tuyuka.

Gestão territorial pelos índios e para os índios

Em que pesem os problemas que ocorrem ainda nas terras indígenas, muitas vitórias foram alcançadas. Os povos indígenas se organizaram para lutar por seus direitos e promoveram alianças com parceiros não-índios que sempre lutaram pelas causas indígenas. Essa aliança permitiu articular diálogos com o Governo Federal e outras instâncias que influenciam políticas diferenciadas para populações tradicionais no mundo.

Mesmo que os índios tenham adotado novas formas de realizar a gestão de seu território, eles ainda mantêm elementos tradicionais. Por exemplo, o respeito aos lugares sagrados e resguardados que representam a mitologia, a origem dos povos, locais onde se reproduzem peixes e animais e respeito a floresta e aos seres que vivem dentro dela. As novas formas de gerir são incorporadas quando os índios passam a conhecer iniciativas de outros povos, que estão em outras regiões, e trocam experiências por meio de intercâmbios. “Quando fui para um intercâmbio no Acre em 2005, passei a conhecer o trabalho que os parentes Ashaninka fazem na formação de Agentes de Manejo Agroflorestal. Levei essa proposta para minha escola e hoje estamos com o trabalho consolidado”, informou Higino Tenório Tuyuka.

Os índios do Rio Negro puderam ouvir experiências de educação escolar indígena empreendidas por outros povos, pois muitos deles ainda mantêm o seu modo vida de tradicional. Um exemplo são as escolas Wajãpi (no Amapá) e Yanomami (no Amazonas e em Roraima), que tem foco no ensino da língua portuguesa e outros elementos da cultura dos “brancos”. Eles informaram que precisam ter esses conhecimentos para defenderem seus interesses no mundo dos não-índios. Os conhecimentos tradicionais são repassados oralmente pelos pais e avós.

No final do encontro, a conclusão dos grupos foi a mesma: o Estado Brasileiro deve proteger e respeitar as terras, culturas e tradições indígenas. Para André Fernando Baniwa, da Foirn, o Estado deveria criar orçamentos diferenciados e direcionados às terras indígenas demarcadas e homologadas e assim garantir desenvolvimento das comunidades, sendo os índios os seus gestores e atores principais. “Já está mais do que na hora de o Estado nos ouvir, conhecer nossas experiências de gestão territorial bem-sucedidas e nos apoiar para ampliar as ações nas nossas regiões. A gestão territorial nas terras indígenas deve ser feita pelos índios e para os índios”.

A Rede de Cooperação Alternativa (RCA)

A RCA existe desde 1997 e é formada por entidades indígenas e indigenistas socioambientais, que se reúnem para definir estratégias e diretrizes políticas comuns às realidades de cada participante – sejam na área de educação indígena, pesquisa, conservação da biodiversidade em terras indígenas, fortalecimento da autonomia dos povos indígenas e a ampliação da sustentabilidade das comunidades indígenas. O principal instrumento utilizado pela RCA para difundir suas ações é o intercâmbio entre seus integrantes.

* Andreza Andrade, da equipe do ISA/Instituto Socioambiental, Notícias Socioambientais, 3/12.

Intercâmbios 2007, Notícias

Intercâmbios RCA 2007 no Rio Negro, Amazonas

por André Baniwa* e Janilson Pereira**

Hoje, dia 13 de novembro de 2007, exatamente as 11h, 18 pessoas indígenas e indigenistas, do estado do Acre, Santa Catarina, Amapá, Roraima, Mato Grosso, São Paulo e Pará juntamente com instituições não governamentais, parceiras, indigenistas como CCPY, ISA e Iepé, membros da Rede de Cooperação Alternativa (RCA Brasil), em quatro botes de alumínio e motor 40HP saíram com destino às regiões do povo Baniwa do Içana, Tuyuka e Tukano, Baixo Waupés e Tiquié, Tariano, Kotiria (Wanano) do Médio e Alto Waupés, para conhecerem as experiências das comunidades e organizações indígenas do Rio Negro em educação escolar, desenvolvimento de alternativas econômicas, manejos de recurso naturais e gestão de territórios. Saiba mais aqui.

foto setcom/FOIRN

Uma das voadeiras saindo do porto de São Gabriel da Cacheira

Este intercâmbio estará acontecendo no período de 13 a 20 de novembro de 2007 nas respectivas regiões. Para o fechamento deste intercâmbio será realizada a oficina de sistematização das experiências de cada instituição visitantes e os povos indígenas do rio Negro no período de 22 a 25 de novembro na maloca da FOIRN na cidade de São Gabriel da Cachoeira, Estado do Amazonas.

Os indígenas de outros estados chegaram na sexta feira, 09/11, na cidade de São Gabriel. Parte do grupo que chegou atrasado à cidade de Manaus só chegou ontem, 12/11, a noite do Barco Tanaka que faz linha no trecho Manaus/São Gabriel.

foto FOIRN

Confraternização na sede da Organização Indígena da Bacia do Içana, OIBI

Os que chegaram na sexta-feira já visitaram a sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro-FOIRN e seus departamentos, sede da Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI) e o Instituto Socioambiental-ISA na cidade.

Ontem, segunda-feira, 12, participaram da palestra sobre o Rio Negro, FOIRN e ISA que trabalham em parceria desde 1993 pela demarcação, educação escolar, saúde e alternativas econômicas nas comunidades.

Essa visita está sendo divulgada localmente através do setor de comunicação da FOIRN para as comunidades através de radiofonia, radio AM municipal e radio FM A Crítica.

foto FOIRN

Participantes do Intercâmbio RCA 2007, no Rio Negro

Na noite de sábado os visitantes participaram do Programa Vozes do Rio Negro, produzido pela FOIRN com duração de uma hora, onde puderam cumprimentar brevemente as comunidades indígenas locais e contar as experiências de seus territórios e Estados.

Segundo o membro do Conselho Político da RCA e Diretor Vice-Presidente da FOIRN, André Fernando Baniwa, esta é a primeira experiência onde todos os membros da RCA visitam um mesmo lugar focando a temática Gestão Territorial Indígena e por isso mesmo será de suma importância para todos. Com isso espera-se produzir importantes reflexões para o futuro das terras indígenas na Amazônia e no Brasil.

* André Baniwa, Diretor Vice-Presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN e membro do Conselho Político da RCA Brasil
** Janilson Pereira, Setor de Comunicação da FOIRN

Gestão Territorial Indígena, Intercâmbios 2007


GESTÃO TERRITORIAL INDÍGENA

O que é e como funciona a Gestão Territorial Indígena no Brasil? Quais as potencialidades e limitações do território indígena? Quais os impactos dos acordos sobre a gestão da terra indígena?

No Brasil estão à disposição instrumentos que regulam o acesso, o uso e a gestão dos territórios indígenas. Leis e programas de políticas públicas, no entanto, devem dialogar intimamente com planos e estratégias de intervenção acordados pela comunidade, a partir das suas necessidades práticas e conhecimentos tradicionais de uso da terra e dos recursos naturais.

Se a gestão territorial indígena tem se mostrado, na maioria dos casos, sustentável, não é senão porque na definição das potencialidades territoriais ou das áreas críticas, que restringem a exploração dos recursos do território, os índios têm logrado fazê-lo a partir de seus próprios conhecimentos tradicionais, e aliando o diálogo destes com conhecimentos técnicos.

São inúmeras as ações em Gestão Territorial Indígena hoje no Brasil. Ações, tais como:

1. Ações de acompanhamento da demarcação (processo de regularização fundiária)
2. Ações de monitoramento e vigilância para proteção da terra indígena (defesa de suas terras das constantes invasões de terceiros)
3. Ações de proteção para o entorno da Terra Indígena (mobilizações locais e regionais, articulações interinstitucionais, participação em fóruns, redes, conselhos)
4. Ações de pesquisa e formação em Educação para a Gestão Territorial Indígena
5. Ações de fortalecimento e ampliação de conhecimentos da política indigenista oficial e da legislação ambiental para a defesa da terra indígena
6. Ações de acompanhamento e participação na execução das políticas públicas voltadas aos povos indígenas e à Gestão Territorial Indígena
7. Ações de proteção dos recursos genéticos existente na terra indígena e dos conhecimentos tradicionais associados
8. Ações voltadas para a provisão e gestão da água na terra Indígena (recursos hídricos)
9. Ações de diagnóstico e mapeamento territorial participativas
10. Ações de planejamento participativo de uso do território
11. Ações de conservação dos recursos naturais, da biodiversidade e de proteção do meio ambiente
12. Ações de produção e/ou uso sustentável dos recursos naturais na terra indígena, uso e manejo dos recursos
13. Sistema agrícola indígena
14. Projetos para o desenvolvimento sustentável e de melhoria da qualidade de vida da Aldeia
15. Ações de segurança alimentar da população na terra indígena
16. Projetos sustentáveis e/ou experiências alternativas para geração de renda (piscicultura, manejo de fauna, sistemas agroflorestais, coleta, artesanato, outros) e comercialização

Sistematizar os conhecimentos acumulados com estas práticas é o objetivo das organizações indígenas e indigenistas integrantes da RCA Brasil, em sua próxima grande atividade: os Intercâmbios 2007.

OS INTERCÂMBIOS EM 2007

foto andré baniwa

Há 10 anos, a RCA Brasil promove intercâmbios entre povos indígenas para a ampliação de suas capacidades de gestão e fortalecimento de sua autodeterminação. Este ano, os intercâmbios além de estarem orientados pelo tema da Gestão Territorial Indígena, acontecerão todos em comunidades de uma mesma região, comunidades indígenas do Alto Rio Negro, Noroeste da Amazônia.

Entre os dias 11 e 20 de novembro, 24 lideranças indígenas de etnias da Amazônia brasileira, e assessores de organizações indígenistas, visitarão 3 experiências bem sucedidas de gestão territorial de povos da Região do Alto Rio Negro.

Índios Timbira do Tocantins e Maranhão, etnias do Xingu, os povos Kaxinawá e Ashaninka do Acre, os Marubo do Javari, líderes Yanomami, entre outros, conhecerão as experiências de sucesso dos povos Tariana e Kootiria, no alto rio Uaupés, do povo Baniwa, no rio Içana, e do povo Tuyuka, no rio Tiquié.

O objetivo principal da atividade é sistematizar os conhecimentos que as etnias possuem sobre Gestão Territorial Indígena. As idas às comunidades terão, portanto, o importante papel de mobilizar os conhecimentos acumulados pelas organizações integrantes da RCA Brasil.

Entre os dias 20 e 25 de novembro, logo após a ida às comunidades, juntas, as lideranças reunirão e sistematizarão os conhecimentos acumulados em Gestão Territorial Indígena, em uma Oficina de Sistematização, a acontecer em São Gabriel da Cachoeira.

Os Intercâmbios da Rede em 2007 e a Oficina de Sistematização contam com o apoio de Rainforest Foundation da Noruega, a coordenação geral do Conselho Político da RCA Brasil e a coordenação local da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA).

COMUNIDADES QUE SERÃO VISITADAS E SUAS PRÁTICAS

RIO UAUPÉS, CACHOEIRA DO IAUARETÊ : POVO TARIANA E KOOTIRIA (WANANO)

foto geraldo andrello/ISA

Escola Tariana; Oficinas em manejo agroflorestal; Pesquisas sobre a agrobiodiversidade das roças e dos quintais; Ações de salvaguarda e Registro da Cachoeira de Iauaretê; Mapeamanento dos lagos e igarapés Kootiria; Viveiro de piscicultura em Caruru-Cachoeira; Mapeamento dos lugares sagrados dos Tariana; projeto de avicultura nas comunidades Tariana; Desenvolvimento e multiplicação de modelos sustentáveis de aproveitamento de recursos aquáticos e agroflorestais baseado em conhecimentos tradicionais e conhecimentos técnicos; Aumento da segurança alimentar de comunidades indígenas; Implantação de experiências piloto em piscicultura, avicultura, e manejoAgroflorestal no Iauaretê; Atividades de educação, pesquisa, documentação e mapeamento

RiO IÇANA : POVO BANIWA

foto arte baniwa

Arte Baniwa e comercialização de artesanatos; Pimenta Baniwa; Escola Baniwa; Psicicultura, Avicultura; Meliponicultura; Sistemas agroflorestais; Formação de agentes indígenas de manejo ambiental; Registro e organização de conhecimentos sobre as paisagens florestais da Bacia do Rio Içana; Gestão ambiental e manejo de recursos pesqueiros e florestais; Gestão Ambiental (controle de erosão, coleta de lixo)

RIO TIQUIÉ : POVO TUYUCA

foto sérgio bartelsman/GTA

Bancos Tukano Kumurô (escultura, revitalização e comercialização); Escola Tuyuca (produção agrícola alternativa; produção de merenda escolar; melhorias da qualidade de vida nas comunidades, água potável, melhoria das moradias); Manejo ambiental e ordenamento territorial; Pesquisa sobre Paisagens Tuyuka; Escola Yupuri-Tukano (valorização dos conhecimentos tradicionais, manejo ambiental e auto-sustentabilidade); Manejo sustentável dos recursos naturais (desenvolvimento de modelos sustentáveis de aproveitamento de recursos naturais do Rio Tiquié, aliando conhecimentos tradicionais e conhecimentos técnicos); Manejo ambiental e atividades de produção alternativas (piscicultura, meliponicultura, manejo agroflorestal); gestão territorial e aumento da segurança alimentar das comunidades; Pesquisa da pesca e manejo dos peixes no Médio Tiquié




Rede de Cooperação Amazônica

A RCA tem como missão promover a cooperação e troca de conhecimentos, saberes, experiências e capacidades entre as organizações indígenas e indigenistas que a compõem, para fortalecer a autonomia e ampliar a sustentabilidade e bem estar dos povos indígenas no Brasil.